COP 30
Precisamos de que o debate seja seguido de encaminhamentos!
Por Cleverson Israel 17 min de leitura
Entre os dias 10 e 21 de novembro ocorreu, na cidade de Belém do Pará, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, ou a 30th Conference Of the Parties. Na abertura do evento, o presidente Lula afirmou que o momento é da ciência e da verdade. Trata-se de um visível contraponto ao negacionismo e às fake news. Com a Guerra da Ucrânia e a Guerra de Israel, fica claro que se investe em guerra, e deixa-se de investir em meio ambiente. E não é apenas uma questão de financiamento de políticas, pois a própria guerra vem a ser uma atividade produtora de poluentes. Em conferências anteriores empenhamos nossa palavra – refiro-me ao Brasil e a todos os demais signatários – em reduzir 1,5 Cº da temperatura do planeta, visando restabelecer o padrão pré-industrial, e fracassamos. Um dos temas debatidos foi a exploração petrolífera no Amapá, na foz do Amazonas. É um projeto que nos recorda de que precisamos mudar a matriz energética e a própria matriz de desenvolvimento. Sem falar que a própria execução da obra já se exibe altamente impactante para o meio ambiente, em si mesma. Reduzir a emissão de carbono é um dever não só dos países ricos, que em maior volume lançaram toneladas de poluentes na atmosfera, nos últimos 200 anos, mas também nosso, interno. Urge uma mudança de mentalidade. Não se pode deixar para amanhã o desembaraçar-se de alienações mentais. O negacionismo, hoje, é tão grande, que muitos compatriotas estão a dizer que as imagens e vídeos referentes ao ciclone nos Municípios do Paraná foram produzidos por inteligência artificial. A inundação no Rio Grande do Sul, ainda de acordo com os mesmos amentais, seria fake new. Tudo isso demonstra não somente uma descrença na ciência, porém, uma insensibilidade ao sofrimento humano, pois nem os corpos mortos jazendo sobre a superfície são capazes de desalojar o fraudador da própria consciência. A situação global é complexa e complicada. Os Estados Unidos da América, por exemplo, a maior economia do planeta, não só não aderem à COP, mas trabalham contrariamente a ela. Vários países se comprometeram com metas em COPs anteriores e não cumpriram. A Noruega é um exemplo disso. Nesse cenário, não poderíamos deixar de falar da IA. A IA é a tecnologia de ponta do momento atual. De um lado, a IA demanda muita energia, contudo, ela pode ajudar a construir soluções para o problema energético e climático. Os data centers de IA consomem até 1,5% da eletricidade mundial. A IA tem o poder de produzir gêmeos digitais, operando simulação de ambiente do mundo real para testar ideias. A IA coloca ao alcance da comunidade científica modelagem e descoberta aceleradas. Além de consumir muita energia, não podemos nos esquecer de que a IA também consome muita água para resfriamento dos equipamentos. Se a energia consumida pela IA for produzida à custa da combustão de carvão e gás natural, ainda temos a questão das emissões de CO2. Gize-se que, quando o equipamento entra em obsolescência, é gerado lixo eletrônico. Até 2030, o consumo de energia pelos data centers vai dobrar. Uma alternativa a tudo isto seriam os painéis solares e turbinas eólicas, mas essas fontes geratrizes só conseguem ofertar parte da energia total necessária. Há quem proponha instalar data centers em locais subaquáticos ou subterrâneos para contornar o gasto com resfriamento, no entanto, os impactos sobre a vida marinha são desconhecidos. Ante o exposto, fica a pergunta: como os governos podem tomar medidas para reduzir a pegada ambiental da IA? Pode-se investir em pesquisa e desenvolvimento, criando padrões de eficiência de hardware. Pode-se exigir um padrão mínimo de desempenho energético. Nos processos de licitação podem-se realizar compras tecnicamente ecológicas. Pode-se apoiar o uso da infraestrutura compartilhada. Recupero que a noção de que a IA ajuda os governos a preverem riscos. Sendo consabido por todos, a energia eólica e a energia solar são intermitentes e afetadas pela imprevisibilidade. Não obstante, a IA tem a capacidade de prever essas oscilações, seja nas correntes aéreas, seja no nível de insolação. A IA vem sendo empregada na otimização de descobertas de minerais, refiro-me aos elementos raros. Eles atendem a finalidade de produção de baterias, o suporte capaz de armazenar energia para uso não imediato. A IA, alfim, tem viabilizado, em alguma medida, aquilo que os economistas consequentes e responsáveis chamam de “economia circular”, calcada no reuso, na reciclagem, no reaproveitamento, visando a que o percentil líquido de produção de resíduos não reintegráveis à cadeia produtiva seja o mais próximo a zero. Refletir sobre meio ambiente é luz, mas o instrumental precisa fazer parte dessa discussão.
