Em dias atrás foi noticiado que havia, em Rio Negrinho, Município vizinho ao nosso, 20 alunas grávidas matriculadas na rede municipal de ensino. Destas, 19 eram de menor idade. Seis delas tinham 15 anos de idade, e duas tinham 13. Antes de entrar no tema propriamente dito, quero reportar umas histórias (ou seria melhor se falar em “estórias”) da época em que, como diz o ditado, “amarrava-se cachorro com linguiça”. Há muitos anos, um são-bentense foi até o optometrista para comprar óculos. Depois de experimentar todo o acervo do profissional da área, verificou que nenhum lhe servia. Pois lhe haviam dito: se você usar os óculos certos, conseguirá ler. E eis que nenhuma lente pudera lhe outorgar essa prerrogativa. Até que o optometrista lhe inquiriu: mas o senhor aprendeu a ler? Ao que o interrogado devolveu: não, jamais! Caso número dois: Não raro, a menina que reside na área rural, acredita, piamente, que a mulher dá filhos à luz pelo ânus, da mesma forma que a galinha põe ovos. Ela só descobre que tem vagina quando começa a menstruar. Caso número três: Certo pastor, que realizou trabalho missionário na região nordeste, em terras interioranas e remotas, relatou ter se deparado com mulheres casadas, mãe de muitos filhos, desconhecerem por qual razão elas têm filhos. Pode parecer lorota, mas é a mais pura realidade. Ninguém nasce sabendo. Nascemos absolutamente ignorantes. Narrei estes episódios para defender a valia do conteúdo de reprodução humana e assuntos correlatos no espaço da sala de aula. Os adolescentes precisam saber como um ser humano vem ao mundo e quais as possíveis consequências da prática sexual. Uma vez ciente disso, faz-se uso do anticoncepcional mais adequado, consoante orientação médico-ginecológica. Se o adolescente encontra sua cara-metade, penso que os pais do rapaz e da rapariga precisam estar de acordo sobre quais serão as regras do relacionamento. Se os jovenzinhos estão na casa dos pais dele ou dela, estes sabem onde seu (sua) filho(a) está, o que está fazendo e com quem. Diferente de jogar essa demanda para a rua. É preferível fazer sexo a usar drogas, por exemplo. Toda tentativa de castração está fadada ao fracasso. Não é questão de fazer ou deixar de fazer, mas como fazer. Jocosamente, diz-se que as famílias do passado eram numerosas porque “não havia televisão”. Sem embargo, os muitos filhos de nossos avós espelham a falta de acesso a anticoncepcionais. Todavia, há uma porção de verdade na afirmação precedente. Percebe-se na maioria dos jovens uma falta de foco. E sexo acaba sendo eleito como uma das melhores opções para ocupar o tempo. O poder público deve ofertar outras atividades aos adolescentes, além daquelas desenvolvidas no espaço escolar. Natação, música, dança, etc. A família, a sociedade e o Estado falharam em dar suporte a essas meninas e moças grávidas. Com efeito, agora serão essas crianças, já na primeira infância, que se acharão suscetíveis a serem negligenciadas, pelo mesmo sistema que se mostrou omisso para com suas genitoras. O trabalho em rede, implicando na transversalidade da demanda, saúde, assistência social e educação, dentre outras pastas, mostrar-se-á fundamental nestes casos descritos. Debater sexualidade humana, seja na família, seja na escola, torna-se cada vez mais necessário. O aprimoramento das técnicas editoriais, no passado, punha ao alcance do público material pornográfico, algo inexistente num momento anterior a essa inovação. E com a internet, e com a facilidade a sítios deste perfil, veio a ser impossível bloquear o acesso a teores ideológicos e imagéticos deste jaez. O que remanesce, nesse diapasão, é o diálogo e a transparência. No que tange às duas meninas de 13 anos, pontuo que, para elas, a gravidez não é apenas um evento extemporâneo, porém, arriscado. O corpo dessas mocinhas não desenvolveu o suficiente para serem mães. As duas crianças estão em risco, gestante e gestado. Crianças e adolescentes passam doze anos no Ensino Fundamental e Médio não só para se prepararem para o vestibular, para o trabalho e para a cidadania, senão ainda para evitar a concretização das circunstâncias aqui aludidas. Entretanto, por mais que os professores se esforcem para cativar a atenção dos alunos, parece que eles não se interessam e, muitos, vão para escola, principalmente, para isto, para namorar. Essa estatística nunca será igual a zero, mas com uma intervenção qualificada poderemos diminuir o número de casos registrados. O diagnóstico aí está, a gestão e os técnicos carregam sobre os ombros a missão de pensar e executar fatores de proteção que redundem na evitação desse fenômeno que, para além de individual, é social. Educação sexual é luz!
