Mais um novembro de luz: Mariano Soltys
Bênção que se renova a cada ano!
Por Cleverson Israel 17 min de leitura
No dia 11 de novembro aniversariou o intelectual são-bentense Mariano Soltys. Tive a satisfação de presenteá-lo com uma obra de Richard Dawkins. Cultor de plúrimas espiritualidades cristãs, como catolicismo romano, gnosticismo, este baseado em escrituras sagradas apócrifas, e rosacrucianismo, Soltys se mostrou alegre ao receber a obra do filósofo materialista referido. Trata-se de “O Gene Egoísta”, de 1976. O gene, seja ele qual for, enquanto puramente gene, não tem vontade própria, não decide ser nem bom e nem mau, ele simplesmente existe e integra a constituição de um indivíduo, rompendo o conceito primário de livre-arbítrio. Nosso estudioso conterrâneo, hodiernamente, divide-se entre advocacia, magistério e família. A propósito, ele não é “só” professor, mas também aluno incansável, sempre mantém um curso ativo, em andamento. Ele também sempre está escrevendo algum livro. Dia 11 pude comer alguns quitutes, pastel, bolo e uma xícara de café, pelo que sou muito grato! Seus pais, apesar da idade, têm boa saúde e são muito amigáveis e acolhedores. Mariano sempre partilha comigo as dificuldades e a beleza da profissão de professor. O perfil do alunado de agora é este, uma busca incessante por socialização e inexpressiva atração pelo conteúdo. Talvez isto reflita em boa medida a segregação decorrente da virtualização da realidade, marcada pelo viés de compensação de estabelecer relações físicas no espaço escolar. Sempre comentamos nossos sonhos acadêmicos, e as frustrações que daí decorreram. Por enquanto, ainda não chegamos onde gostaríamos de ter chegado, mas temos, neste instante, a razão clara do relativo insucesso. Nossa amizade já beira uns vinte anos. Dentre as muitas percepções que temos da realidade, uma constante é esta: o decurso rápido e irreversível do tempo. Desde jovens tínhamos essa noção, e o sonho de ser escritor decorreu dessa tomada de consciência. A única estratégia válida de enfrentar o tempo é fazer história, e história se faz escrevendo. O sucesso de um empreendimento, nesta primeira metade do século vinte e um, encontra-se ligada ao princípio de parcerização. E na seara intelectual e editorial não é diferente. Deus permita que escrevamos novas obras em conjunto. Nunca foi tão desafiador embrenhar-se pelo mundo literário como na atualidade. Como observou Ailton Krenak, “hoje as pessoas querem escrever 300 livros”. E, além do mais, agora, nós, escritores, temos que competir com as máquinas. A pessoa dá um comando, a inteligência artificial produz um livro em segundos, e a pessoa coloca o material para ser vendido numa plataforma de internet, sem avisar o leitor do modo pelo qual a obra veio ao mundo. Isto é pior do que consumir transgênicos sem sabê-lo. Sendo assim, aquilo que sempre se tentou expurgar da universidade e dos trabalhos ditos científicos, o enviesamento subjetivo e a idiossincrasia, para adotar uma linguagem abstrata, objetiva e universal, agora deixa de ser defeito para se tornar uma qualidade. Esse caráter indelével está a dizer: este texto foi produzido por um ser humano (de verdade), e não por uma máquina. Enquanto existirem pessoas como Mariano Soltys, a melhor tecnologia, o melhor software, a melhor inteligência – que é natural e não artificial, será aquela situada entre a cadeira e o monitor. Nasci pouco antes da década de 80 e Soltys nasceu na primeira metade da década de 80. O mundo em que nascemos era bem diferente deste, em que vivemos. O mundo presente oferece enésimas oportunidades como não havia antes. Paradoxalmente, ganhar a existência e encontrar uma base segura torna-se cada vez mais desafiador e difícil. Pessoas como Mariano Soltys são um para-raios a atrair bênçãos sobre a nossa comunidade. Deus se agrada de pessoas como ele. O desenvolvimento de nosso Município depende não só de infraestrutura e tecnologias físicas, mas de inovação profícua no campo pensamental. Esta tarefa cabe a Mariano Soltys. Chega de esquemas excessivamente simplificados e toscos, tais como “os nordestinos pensam e os sulistas trabalham”. Os nordestinos têm totais condições de encontrar a redenção pelo trabalho, da mesma forma que reunimos todas as condições de produzir a literatura mais qualificada no nosso torrão nacional. A literatura tem o potencial único de promover a divulgação das mais pitorescas imagens de nosso mundo, do nosso modo de viver e conceber a vida. São Bento do Sul não é pouca coisa não! E Mariano Soltys vem a ser um dos mais briosos filhos desta milagrosa naturalidade. É o tipo de ser humano que faz com que nos orgulhemos de carregar conosco o nosso gentílico. Mariano: Deus o abençoe largamente. Como lhe disse por mensagem de texto, que nesta viagem de trem tenhamos a oportunidade de desembarcar apenas na última estação. Sua vida é luz!
