Página Inicial | Colunistas | Premonição: a parapsicologia é uma pseudociência?

Premonição: a parapsicologia é uma pseudociência?

Evitando juízos de valor precipitados!

Por Cleverson Israel 17 min de leitura

No início do mês de junho de 2025, foi publicado um artigo na revista Nature, sugerindo que no cérebro humano existem neurônios, em linhas gerais, “capazes de prever o futuro”, segundo redação de um dos comentaristas do teor aliunde veiculado. De acordo com a tese sustentada, assim como existem células neurais de lugar, responsáveis pela geolocalização, haveria, de igual modo, células de progresso, responsáveis por aquilo que eu nominaria como “cronolocalização”. Tratar-se-iam de “neurônios no córtex frontal medial que codificam o progresso em direção a metas em tarefas sequenciais”. Essa habilidade, ao contrário do que o aspecto novidadeiro faria supor, não seria algo acessório, mas uma capacidade fundamental. O encadeamento lógico de proposições que substituem fatos ou ocorrências, se perfeitamente arranjado, redundará num resultado necessário, antecipando no plano abstrato o que ainda está por vir no plano concreto. Algo parecido podemos observar na desenvoltura de um cálculo matemático. Quem, entretanto, pode assegurar que essa previsibilidade há de ficar submissa ao âmbito estrito dos silogismos? Muitos filósofos, físicos e neurocientistas, acreditam que o pensamento radica seu fundamento último em processos quânticos, para além de fenômenos químicos e elétricos. Seja como for, se o nosso cérebro, ou a nossa mente, que nele se aloja, é capaz de inferir um fato antes que ele se concretize, essa possibilidade caracteriza “premonição”, que vem a ser um conceito caro à parapsicologia. Muitas pessoas relegam à parapsicologia um lugar ingrato, supondo que um cientificismo sério há de ser metodologicamente materialista. A quem pensa desse modo, pontuo duas questões: 1) quanto mais se estuda a matéria, menos materialista se é (na acepção tradicional de “materialismo”); e 2) múltiplos grandes progressos foram realizados na seara da parapsicologia em solo russo, mesmo quando o regime em vigência era o soviético. Se, de acordo com os neopositivistas, a ciência é uma linguagem bem construída, basta que construamos uma teoria com zelo, e ela haverá de ser ciência. Da mesma forma que um grande livro pode estar escrito em diferentes idiomas, um mesmo fenômeno pode ser expresso por linguagens diferentes, sobretudo no estilo e na forma, porém, repousando numa indiscutível concordância de fundo. O que as ciências epistemologicamente estabelecidas e consolidadas podem oferecer para além das explicações da parapsicologia, é o apelo à empiria, o nível de detalhamento, a verificabilidade. Sem embargo, para o público leigo, as explicações da parapsicologia são mais palatáveis e entendíveis. Que algo possa ser previsível ou predizível, no viés evolutivo, traz consigo a magna vantagem de evitar uma real ameaça à sobrevivência. Essa hipótese explica o rumo que a evolução do nosso cérebro tomou ao longo da caminhada da nossa espécie neste planeta. Se, em matemática, um teorema fica séculos sem demonstração, e nem por isso ele deixa de ser aplicado, não assusta e nem é de admirar-se, que profundas verdades sejam declaradas por uma disciplina epistemicamente crítica e problemática, e, só muito mais tarde, encontrem ratificação e respaldo criteriosamente rigorosos. Pelo conceito de telecinesia se aprende que a influência da mente sobre um elemento externo, em geral, fica compreendido dentro de um raio de aproximadamente cinquenta metros. Isso passa bem perto do conceito de “campo”, tão caro à física. Destarte, assim como a noção de “campo” se sujeita a uma metragem ou distância, a capacidade de antecipação de um evento não poderia projetar-se ao futuro remoto, mas apenas para um período de pequena ou média duração. Para qualquer disciplina, a oportunidade de poder quantificar ou mensurar relações, apresenta-se como o ótimo do ideal científico. Com efeito, a ciência nasce não apenas para compreender a realidade, acima disso, para controlá-la. Essa confluência de conclusões nos transmite uma valiosa sabedoria: não se deve, aprioristicamente, descartar uma ideia ou um ensino, calcado no preconceito. O absurdo de ontem é o novo normal de hoje. Diga-se de passagem, as pessoas de elevada inteligência, quase sempre, são acompanhadas por essas qualidades: capacidades metarreflexivas, alta adaptabilidade emocional, resistência ao conflito interpessoal e, o mais relevante para fins deste artigo, baixa rigidez de pensamento. Não é prudente estigmatizar uma pessoa, pelo simples fato de ela adotar um padrão de interpretação da realidade diferente do nosso. O caso em apreço denota a transversalidade da experiência humana, pois uma discussão assaz teórica e complexa, aparentemente sem vínculo com o cotidiano, impacta diretamente a ética, que pauta o modo como devemos nos reportar ao nosso ladeante.