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Comportamento no ambiente escolar

Inteligência e caráter: como a perna esquerda está para a direita no andar!

Por Cleverson Israel 17 min de leitura

O deputado federal Fernando Máximo (União – RO) apresentou o Projeto de Lei n. 4.608/2024, de acordo com o qual o estudante poderá ser reprovado por mau comportamento, ainda que aufira boas notas nas avaliações de conteúdo. Consoante a proposta, o objetivo é educar para a cidadania e a responsabilidade social, evitando situações como desrespeito a professores e funcionários, bem como violência física e verbal. En passant, a ideia me agradou. Até o abespinhado jornalista notou que “as pessoas são contratadas pela competência e desligadas pelo mau comportamento”. Engrossa o coro ninguém menos do que Mahatma Gandhi. Dizia ele: “Os sete pecados sociais são estes: política sem princípios, riqueza sem trabalho, prazer sem consciência, conhecimento sem caráter, comércio sem moralidade, ciência sem humanidade e culto sem sacrifício”. Admitidas estas sete diretrizes como premissas, exsurge o dever de conjugar o conhecimento com a formação do caráter. Evidentemente, essa abordagem pode colidir com aqueloutra, oriunda do Estatuto da Criança e do Adolescente. Entretanto, a lógica garantista e protecionista não se choca com a responsabilização pedagógica, mas ambas as abordagens se complementam mutuamente. Não deixa de ser um modo de empoderar também, o professor em sala de aula (e fora dela), haja vista que os estudantes de agora, recorrentemente, se mostram incontíveis, irrefreáveis. O que se advoga não é punitivismo puro e simples. A promoção do direito da pessoa em formação deve incluir a noção de que é ela própria que tem o poder de atrair sobre si o rendimento intelectual ou a reprimenda. A função da escola é preparar para a vida adulta. No trabalho, quem já está formado, bem sabe que não obtém proveito aquele que cumpre a função de executivo eficaz, mas se reporta a colegas, superiores ou subordinados inadequadamente. Uma educação integral necessariamente haverá de contemplar o pensar e o agir. A ausência de limites terá como consequência, por exemplo, que os adolescentes de hoje, quando forem pais, amanhã, deparar-se-ão com a dificuldade de pautar a conduta dos seus filhos. Quem nunca viu uma bússola não consegue dar o norte para outros. Um aluno detentor de boas notas, cujo comportamento não se compatibiliza com as expectativas sociais, é como um carro possante sem sistema eficiente de frenagem. Quando o comportamento se torna alvo de aferição e mensuração, o recado subliminar é claro, trata-se de algo que importa, que tem valor. A iniciativa legal em comento deveria ter tomado corpo muito antes. Inadmissível que uma universitária aprovada em um curso concorridíssimo se aproprie do valor da comissão de formatura. A lacuna no processo formativo é patente. É necessário que os órgãos de classe fiscalizem a atuação de seus inscritos. Cremos, no entanto, que a supervisão sobre o comportamento na fase escolar terá, como reflexo, profissionais mais assertivos e comprometidos com a deontologia profissional de sua categoria. O Brasil é visualizado, internacionalmente, como o país onde o modus operandi da atividade política é atravessada pela costumeira improbidade. Essa conjuntura é o reflexo da falta de educação comportamental, negligenciada ao longo da trajetória existencial dos sujeitos. O aluno mal comportado prejudica a si próprio, na medida em que o torna repulsivo aos olhos de potenciais empregadores que almejam trabalhadores centrados, e, de modo imediato, dana com o processo de aprendizagem dos colegas, impedidos de focar a atenção na ministração de saberes, em função do ambiente adverso. É hábito dos alunos responsabilizar o professor de matemática ou filosofia, por exemplo, de que é ele quem não exibe as capacidades necessárias para induzir a turma ao entendimento das matérias. Com efeito, qual milagre que os professores dessas disciplinas hão de fazer diante do incontido falatório da classe? Pode um assunto, abstrato e complexo por natureza, ser compreendido em meio à algazarra? Essa é a realidade dura e fria da educação hoje: os alunos sequer querem ouvir o que o professor tem a dizer. O efeito colateral, de uma eventual aprovação do projeto de lei em apreço, poderá vir a ser uma intensificação do ambiente já policialesco nas unidades de ensino. Muito triste ter chegado a este ponto. O que fazer? Pessoalmente, aposto na pluralidade de abordagens. É muito melhor reforçar o bem do que combater o mal. E por mais que a pedagogia insista no aspecto lúdico, a vida não é uma brincadeira, e o mundo dos adultos comporta todo tipo de responsabilização, incluindo a segregação social e a apuração jurídica, que se desdobra em responsabilização civil, criminal, política e administrativa. Cada um, desde tenra idade, deve estar atento e ser um observador de si próprio. É preciso desenvolver esta percepção nos mais jovens.