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Plano Mendoza

Plantando sonhos, ideais, árvores... coisas boas, enfim!

Por Cleverson Israel 17 min de leitura

No dia 13 de junho de 2025 foi lançado o Plano Mendoza, da autoria do deputado estadual Mário Motta, consistente em promover a arborização urbana. Em nome da sustentabilidade e do padrão mais ecológico das cidades integrantes do Estado de Santa Catarina, pretende-se criar as chamadas “rotas verdes”. O nome do plano deriva da cidade argentina de Mendoza, notabilizada pela perífrase “Cidade das Árvores”. O Município pioneiro, onde a implantação da ideia começará a ganhar forma, será Guatambu, localizado na região oeste, com oito mil habitantes. Cidades, cuja população seja inferior a vinte mil habitantes, não têm a obrigatoriedade de formular o Plano Diretor. Ainda assim, em Guatambu, o Plano Diretor será estruturado, para contemplar o propósito da arborização. Vários são os benefícios da arborização: capacidade de absorção de água, o que contribui para a evitação de enchentes, redução na temperatura e, com ela, uma melhora na saúde mental e queda na criminalidade. Em O Espírito das Leis, Montesquieu observa que, em lugares mais quentes, há maior criminalidade do que em lugares frios. Como a vegetação diminui a oscilação de temperatura, acaba que resta aumentada a própria duração da pavimentação asfáltica. Há duzentos anos, chegar em um povoado, e ver a vegetação desbastada, era sinônimo de progresso. Como, de igual forma, avistar chaminés lançando grossa fuligem sobre a paisagem, também o era. Os tempos, agora, são outros. Uma árvore é, literalmente, um climatizador (de baixo custo). Inadmissível, hodiernamente, planejar uma avenida e desconsiderar a arborização que deve estar presente em ambos os lados. Em vários quesitos, nosso Estado é referência nacional, ou figura no topo de aplicação de um dado critério de mensuração de qualidade de vida. E, com essa nova iniciativa, confirmaremos, uma vez mais, nosso lugar no pódio. Experiências, em diferentes continentes, têm mostrado o êxito dessa ideia que, agora, apresenta-se como diretriz estadual. Com as árvores vem a microfauna, tais como insetos polinizadores, e aves, das mais diversas espécies, que encontram recursos alimentares e suporte para edificação de ninhos. O fato de a arborização implicar a feitura do Plano Diretor, forçará o Poder Público Municipal a pensar outros aspectos, para além do atingimento do alvo, que é a arborização. Isto tem um efeito positivo em si mesmo, na medida em que desincentiva a inércia do governo local. O aspecto ambiental é mais um elemento-chave dessa urdidura chamada política, naturalmente transversal, complexa desde o berço. O gestor público sempre deve ser guiado por conveniência e oportunidade. Por conseguinte, em tempos de mudanças climáticas, e fenômenos climáticos extremos e adversos – como o que presenciamos no Estado vizinho do Rio Grande do Sul – nada calha tão bem, como rever nossos conceitos e atitudes. Do ponto de vista hídrico e atmosférico, é altamente recomendável o plantio de vegetação. Toda atividade antrópica traz consigo a pegada ecológica e, especificamente, a pegada hídrica. O mínimo que devemos fazer é colocar em marcha ações que, ao menos, compensem, em alguma medida, os efeitos indesejados de nossas atividades econômicas. A vitalização de nossas cidades, mediante estratégias de arborização, é uma bandeira que está acima de ideologias partidárias, é uma questão de racionalidade e realismo. Não se trata de um luxo, não se trata de uma fala bonita a meramente espelhar o politicamente correto, mas é o olhar imbuído de inteligência, é a percepção a render-se aos alertas da natureza que nos circunda. O antropoceno mal começou, e as consequências já estão a vergastar o protagonista da aludida era. A única opção viável é adotarmos as providências cabíveis para adiar o fim do que começamos, ou, como diria Ailton Krenak, para “adiar o fim do mundo”. Entenda-se, ainda que o mundo não acabe, ele acabará para nós. Se quisermos pegar uma carona em Leonardo Boff, em numerosos pontos em acordo com o ambientalista retrocitado, do que precisamos é cuidar da criação que Deus tirou do nada, e nos confiou como guardiães. Qualquer que seja a premissa ou pressuposto, há uma concordância acerca do que fazer, muito embora nem sempre “por que fazê-lo”. O ambientalismo é essa espiritualidade do teísta, do judeu, do cristão, do árabe, do indígena, do oriental, do africano, do próprio ateu. A natureza traz consigo uma aura de especial, de primordialidade. Em todas as sabedorias do mundo encontramos o bem-vindo conselho sobre a importância de cuidar da nossa casa comum. O próprio parlamentar referido como pai da ideia invocou um provérbio chinês, que diz: “A melhor época para plantar uma árvore foi há vinte anos; a segunda é agora”. Assino embaixo! Arborização é luz!