A última novidade tecnológica veio da Rússia: nossos amigos do país gelado desenvolveram um míssil de propulsão nuclear, denominado “Burevestnik”, consoante o título do presente artigo. Esse míssil tem alcance praticamente ilimitado. Ele tem autonomia para poder voar por horas ou dias. Ele carrega consigo uma ogiva nuclear. Observadores da OTAN apelidaram o armamento de “Chernobyl voadora”, pois, segundo dizem, ele deixa um rastro atmosférico de radiação, além de poder explodir, em havendo falha técnica, e precipitar seu combustível por onde estiver passando. O equipamento pode alterar a rota de maneira imprevisível, além de viajar em baixas altitudes, de 50 a 100 metros de altitude, o que o tornaria imperceptível a radares e outros sistemas antimísseis. Os russos sempre investiram fortemente na área militar. E a Guerra da Ucrânia, fabricada pelos Estados Unidos da América, acelerou essa tendência. Os ianques quiseram estar à frente do mundo todo, comprando a ideia europeia de “razão”, de “racionalismo”, acreditando que o sucesso cabe a quem muito trabalha e a quem capitaneia o desenvolvimento de novas tecnologias, desde comunicação e informação a aparato bélico. Os povos não europeus aprenderam a lição. Entre estes, eu citaria chineses e russos. Se bem que, parte do território russo, é europeu. A lógica da acumulação de riqueza faz-se, necessariamente, acompanhar pela lógica da militarização. Adianta ser rico e correr o risco de ser saqueado? Ou, seria plausível deixar desmantelar uma estrutura de relação econômica que faz de alguém um privilegiado econômico? Essa nova arma permite aos russos precipitar uma ogiva nuclear em qualquer ponto do planeta, da Casa Branca à Dow Jones. Com Platão e Aristóteles se firma a noção de universal. Se bem que ela já se acha em Tales de Mileto: “Tudo é água”, então “tudo” é “tudo” mesmo. A técnica se universalizou. Mas a filosofia europeia continuou sendo a filosofia dos europeus, por mais que brasileiros e outros povos tenham feito força pela assimilação das ideias concebidas no Velho Mundo. A China tem seu próprio modo de pensar, ainda que o marxismo encontre sua fonte na Alemanha. É um socialismo científico “a la Confúcio”. Os russos fazem questão de se dizerem diferentes da Europa. Ainda que, no passado, um dos seus ideais tenha sido se igualar à França, ao máximo, no maior número de quesitos. Hoje o cristianismo ortodoxo parece ocupar parte considerável daquilo que seria central para os russos, sua cultura e identidade. O melhor da filosofia contemporânea, a razão comunicativa, voltada à consecução do diálogo e do entendimento, não recebeu a atenção que mereceria, e o preço recai sobre seus próprios detratores. A guerra começa onde a política tradicional não funciona mais. Política é diálogo. Guerra é força bruta. Cada uma das partes só vislumbra impor aos demais suas próprias narrativas. Como se cada um dos lados gritasse o mais alto possível, para se fazer entender, quando o potencial ouvinte, propositalmente, veste abafador de ruído. O armamentismo nos coloca cada vez mais próximos do apocalipse nuclear. E não adianta a mídia ocidental demonizar os russos. Todas as partes precisam ceder. Na Grécia Antiga, Atenas era notabilizada por concentrar em si a erudição e o saber filosófico, ao passo que Esparta se destacava por sua cultura bélica e desenvoltura militar. São, na verdade, aspectos complementares. Conhecimento (técnica) sem sabedoria (filosofia) é algo muito perigoso. A técnica arramou-se por todos os continentes. E a filosofia, como que um coração em relação ao corpo, permanece alojada nas pitorescas cidades europeias que viram seus gênios nascer e se tornarem, efetivamente, o que vieram a ser. Temos o corpo (técnica) da civilização ocidental, mas carecemos de sua alma (filosofia). Os melhores filósofos russos são marxistas-leninistas. Não vemos filósofos russos, em profusão, de outros vieses filosóficos. Os russos lideram a produção de novos armamentos, mas não exibem o mesmo desempenho no campo da reflexão. E, o que digo em relação aos russos, outrossim, eu o faço a todos os povos não abarcados pelo continente europeu. O curso da história dá sinais de que a Europa não se acha em condições de ocupar a linha de frente da maratona. Seus pares, entretanto, mostram-se carentes de riqueza pensamental, colocando em xeque o valor do próprio pensamento reflexivo e meditativo, de um lado, e, por outro, antecipando que estaremos rodeados por muitas utilidades tecnológicas, inclusive de TICs, sem que tenhamos algo que valha à pena fazer fluir por meio desses instrumentos. É a preponderância total dos meios sobre o conteúdo. Um belíssimo corpo sem alma. Quem estuda filosofias orientais costuma dizer que o Ocidente se ocupa do ser, ao passo que o Oriente se ocupa do nada. Aparentemente, o nada prevaleceu sobre o ser. Venha a nós Georg Hegel, aquele que disse que “o ser e o nada são a mesma coisa”, a única via pela qual poder-se-á arguir que nossos esforços vieram a encontrar sua respectiva recompensa. Armas nucleares são breu, filosofia, esta sim, é luz!
                
                
            