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TRI: aprimoramento ou obscurantismo?

A Teoria Clássica dos Testes (TCT) surgiu no século XX e foi o começo da disciplina denominada “psicometria”. Ela propôs que as avaliações fossem objetivas, com respostas fechadas, em contraposição à metodologia empregada anteriormente, de costume, descritiva ou argumentativa. A Teoria Clássica dos Testes veio ao mundo com o propósito de aferir o potencial da […]

Por Israel Minikovsky 16 min de leitura

A Teoria Clássica dos Testes (TCT) surgiu no século XX e foi o começo da disciplina denominada “psicometria”. Ela propôs que as avaliações fossem objetivas, com respostas fechadas, em contraposição à metodologia empregada anteriormente, de costume, descritiva ou argumentativa. A Teoria Clássica dos Testes veio ao mundo com o propósito de aferir o potencial da inteligência lógico-matemática e de interpretação. Enaltece a capacidade analítica do submetido à avaliação. Essa metodologia se mostrou tão promissora que, hodiernamente, são raras as avaliações que empregam outros critérios, destoantes destes, que se tornaram a moda. A crítica que passou a ser feita é que essa metodologia não veda o beneficiamento de um candidato favorecido pela álea, popularmente conhecida como “sorte”. Ainda que, probabilisticamente, é mais fácil ganhar na loteria do que ser aprovado em concurso público ou vestibular marcando respostas a esmo. Visando, em tese, aprimorar a averiguação do nível do conhecimento do candidato, adotou-se a Teoria da Resposta ao Item (TRI). Essa teoria é uma metodologia nova de aferição de potencial intelectual. Ela leva em conta não só o número total de questões acertadas e erradas, senão também, o nível de dificuldade e complexidade das questões. Portanto, quem está prestes a se submeter a qualquer espécie de certame, a dica é esta: procurar acertar todas as questões fáceis, mostrando conhecer os princípios básicos daquela disciplina em apreço, e acertar o maior número possível das questões complexas. Graças a esta nova metodologia, por exemplo, um candidato que acertou menor número de questões pode ser aprovado, ficando fora, aquele que acertou maior número. Nem sempre será assim, mas eventualmente, poderá sê-lo. Não faz sentido, a título de menção, que o candidato acerte uma questão de trigonometria, que demanda vários conhecimentos matemáticos, inclusive o Teorema de Pitágoras, e que ele erre uma questão bem mais simples, onde a única grande exigência se limita à aplicação da fórmula do matemático grego a pouco invocado, ou seja, encontrar uma variável deduzível da compreensão de que o quadrado da hipotenusa corresponde à soma dos quadrados dos catetos. Outrossim, parece pouco plausível que alguém erre a grafia de uma palavra bastante corrente em língua portuguesa, quando se trata de medir o conhecimento ortográfico do testando, e acerte uma questão relacionada a análise sintática de elevada abstração. A TRI visa erradicar estas incongruências. Destarte, parece-nos que a TRI vem a ser a melhor coisa do mundo, a mais justa metodologia de avaliação. É aqui que entra a minha crítica. Por exemplo, quando me submeto a uma avaliação, embora a prova e suas respostas sejam sigilosas, o gabarito está pronto antes da aplicação da mesma. Já a TRI é um aplicativo, um programa de computador. É redundante, mas verdadeiro, um programa é programável e reprogramável. Quem tem acesso a esse software? Ele é uma caixa-preta. A prova e o gabarito, em princípio, são imexíveis. Já a maneira como as questões serão relacionadas, umas com as outras, é algo complexo e penetrável por quem exiba altos conhecimentos de informática. Acaso é entregue uma cópia do programa para que, posteriormente, seja confrontado o programa efetivamente utilizado e sua respectiva cópia? Um dos princípios da administração pública é a transparência. O grande controle da atividade estatal é o controle social. Quem, entretanto, sendo leigo, é capaz de supervisionar uma tão complexa metodologia de medição de conhecimento? Como refazer o passo a passo de algo tão arrojado e artificioso? As leis de quotas, para afrodescendentes, deficientes, mulheres vítimas de violência, alunos oriundos da escola pública, o uso do ENEM para pontuar em favor do ingresso na universidade, tudo tem complexificado o mecanismo de entrada no ensino superior. E agora vem a TRI para incrementar o que já era composto. Com a concorrência e a simultaneidade de tantos critérios, quem vai saber se, é de se colocar a mão no fogo, em nome da lisura do procedimento? Disto temos certeza: qualquer que seja o critério, é recomendável esforçar-se nos estudos e levar a sério os compromissos escolares. A persistência é mãe do êxito, seja qual for o obstáculo a ser enfrentado. Estudo é luz!

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