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Universidades Federais: menos podcasts, mais realidade

Coisa nossa!

Por Cleverson Israel 18 min de leitura

A internet está transbordando de influenciadores que gravam vídeos, cujo teor ideológico foca-se em desautorar as universidades públicas, principalmente as federais. Não há dúvida de que esses papagaios defendem princípios filosóficos e jurídicos, defendem um modelo de sociedade mais concentrador. Concentrador de dinheiro, poder, status, dignidade, e por aí vai. A universidade pública, de ingresso baseado no mérito, ultimamente acoplado a marcadores sociais de clivagem e as cotas tencionando fazer justiça histórica na sociedade brasileira, relativizam a ordem capitalista posta. As cotas desmantelam a cumplicidade branca silenciosa, a cumplicidade religiosa silenciosa, e assim por diante. A ideia da burguesia é fazer da universidade, simplesmente, mais um aparelho ideológico de dominação, para usar um conceito de Althusser. Por meio de instituições, as relações sociais assimétricas são produzidas, reproduzidas, reforçadas, perpetuadas. No entanto, para além desse desiderato amplo, de firmar um modelo de organização social arquitetado para ser a maravilha sobre a Terra, para uns poucos felizardos, a elite que não gosta de partilhar nenhuma espécie de dividendos, há interesses menos abstratos e mais empíricos, para transformar as federais no Judas do nosso tempo. Grupos econômicos poderosos querem privatizar as universidades públicas federais para transformá-las em empresas sob sua (legítima?) propriedade. Evidentemente, além de o candidato ter de fazer a “prova dos nove” (vestibular), ele necessitará de dinheiro para arcar com as mensalidades, e demais despesas atreladas ao curso, bem como à própria subsistência, enquanto durar o ciclo formativo. O ensino superior, nesse panorama, voltaria a ser privilégio dos abonados. O Congresso Nacional não votará o projeto de privatização das universidades federais brasileiras sem antes “preparar” a população. Para tanto, micróbios sedizentes “influencers”, que recebem migalhas desses mal-intencionados, lançam na rede, o dia todo, todos os dias, “material” (para não usar um termo chulo ou feio) a denegrir o templo do saber. O apelo é muito forte. Trabalha-se com a patência da realidade e com o indiscutível, para insinuar que a abolição das universidades públicas é algo necessário e trivial. O apreço pela diversidade é apresentado como prova de uma suposta decadência irreversível. Não é errado ou imoral transigir com a diversidade. O ecúmeno é prova de sabedoria, e não de perda de referências. Você, amável leitor, tem a prerrogativa e liberdade de ser de esquerda ou de direita. Como tudo o mais, a existência, o propósito e a missão institucional das universidades públicas, pode ser objeto de debate. Digo isto com base na liberdade de expressão derivada da nossa Carta Magna, e também como contribuinte, que concorre para o custeio dessas estruturas de ensino. O que proponho ao leitor cidadão, é que não prescinda da verdade de que, para além da função social, do viés político, da maneira de entender o mundo e a própria vida, há interesses prioritariamente pessoais e econômicos. Visando satisfazer as mais subjetivas pretensões egoísticas, de enriquecimento à custa de toda a sociedade, ilustres anônimos promovem discussões pseudoteóricas, fingindo que tudo se trata de um processo comunicacional e democrático, quando, em verdade, eles anelam pela oitiva do vil metal caindo no fundo da urna. Passa-se a impressão de que se trata de uma profilaxia social, do restabelecimento da ordem sobre a anarquia, ao passo que, a meta da contrapropaganda é desgastar a imagem institucional, pavimentando o acesso à sua derrocada, implantando no seu lugar um modelo caro, financeirizado, preconizador da realização do lucro. Hoje, ao menos em tese, a universidade pública federal é de todos. Uma vez privatizada, ela será de um grupo econômico, ou de uma classe social, aquela mesma que já detém o monopólio dos meios de produção. A pergunta que esses patrocinadores do tumulto e do delírio fazem para si próprios, e que norteia suas existências, sempre é: “o que eu vou ganhar com isto?”. Destarte, por uma questão de simetria, e de padronização do debate, convido e desafio o cidadão comum a fazer o mesmo. Toda vez que tentarem persuadi-lo de que as universidades públicas federais devem ser privatizadas ou abolidas, inquira seu interlocutor da forma que segue: “o que eu ganho ou perco com esta discussão?” Sim, pois, se você não se perguntar, farão de você um soldado sem soldo, um trabalhador sem salário, um estafermo que labora de graça para um senhor que jamais retribuirá seus vassalos. A propósito, não ganhei nem sequer um real para ter escrito o que escrevi. Então, por que fi-lo? Bem, sou filósofo, e o alimento do filósofo é dizer a verdade. Foi para isso que eu vim e é para isso que eu permaneço. A verdade é a luz!

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