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Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira

Jovens escrevendo sobre o que eles mesmos um dia enfrentarão!

Por Cleverson Israel 16 min de leitura

A primeira etapa do ENEM, do ano de 2025, ocorreu no dia 09 de novembro. As competências cobradas dos participantes do certame, neste primeiro instante, giravam em torno de linguagens, códigos e suas tecnologias, ciências humanas e suas tecnologias, e redação. Esta última, teve como tema para desenvolvimento o enunciado que se presta de título para o presente artigo. A proposta de trabalho casa com a situação atual da sociedade brasileira, exibindo-se bastante situada ao empregar o plural, “perspectivas”. De fato, muitos são os vieses e muitas são as abordagens. A própria “teologia”, que é um ramo de conhecimento, em princípio, bastante conservador, comporta várias “logias”. A pessoa idosa transita no campo simbólico como uma subjetividade sábia e experiente, de um lado, e, por outro, às vezes, tem de conviver com a realidade do declínio cognitivo. A seguridade social, guarda-chuva sob o qual se abriga o tripé previdência social, saúde e assistência social, será a mais impactada com o envelhecimento da sociedade brasileira. Os direitos e os interesses da pessoa idosa precisam receber atenção transversal nas várias políticas públicas sociais. O Estado deve, através da vigilância socioassistencial, elaborar diagnósticos sobre os diversos segmentos sociais, entre os quais se acha o público idoso, a fim de apurar vulnerabilidades e potencialidades. Ali, onde está a vulnerabilidade, deve-se colocar em circulação um fator de proteção. Onde está a potencialidade é preciso ofertar apoio, para que o possível torne-se realidade concreta e factível. Ser idoso, hoje, é substancialmente diferente do que em épocas pretéritas. O extensionamento da vida laboral já é um fato social incontroverso. O primeiro e segundo setores, ante estas circunstâncias, devem, portanto, cooperar a fim de integrar a pessoa idosa ao mercado de trabalho, levando em consideração seu perfil e suas condições físicas e mentais, observando-se a adequação entre a vaga e o seu pretendente. A terceira idade deixou de ser concebida e encarada como um período de segregação e ostracismo social, para ser enxergada como o período mais produtivo da vida. Isto, sim, pode ser denominado de “mudança de perspectiva”. O cuidado e o respeito continuam sendo devidos, mas a pessoa idosa sai do lugar de recebedor passivo, para continuar sendo o adulto protagonista que foi em anos anteriores. A duração dos ciclos de vida foi ampliada. Atualmente, tornamo-nos adultos mais tardiamente, prolongando a adolescência, e, graças à medicina e à mudança nas tecnologias de trabalho, morremos mais tarde, motivo em razão da qual calha permanecermos mais tempo econômica e socialmente produtivos. A sociedade brasileira tem muito a aprender, mas já amadureceu bastante. Hoje as políticas estatais são pensadas a partir dos ciclos de vida, trate-se de infância, adolescência, maternidade e velhice. É a sociedade que precisa mudar de mentalidade. A pessoa idosa não é um segmento isolado, e estigmatizado como comunidades tradicionais. Pelo contrário, envelhecimento é destino de todos. Inclusive das comunidades a pouco referidas. Por conseguinte, sabendo que é isto que nos aguarda, não só os fundos de aposentadoria precisam aceitar esse fenômeno demográfico, porém, todo indivíduo, uma vez ciente da inexorável ocorrência, carece estipular um plano de vida que contemple a mudança de que falamos. Mais do que simplesmente permanecer ativo por mais tempo, no trabalho e em outros ambientes de socialização, a mudança que se acha em curso gera uma nova perspectiva no plano mais basilar, o existencial. A pessoa idosa não produzirá tão somente mercadorias ou serviços, mas sentidos. O campo simbólico, em meu humilde ponto de vista, sobrepõe-se ao concreto. O estar fora de casa envolvido nos processos sociais, em todos os seus meandros e matizes, implica um modo distinto de ser e estar no mundo. Há uma mudança de papéis e de finalidades. O que era demandante passa a ser demandado, o que era pletora passa a ser uma força ativa e positivamente relevante. Fosse pouco tudo isto, pondero que a mudança não é prerrogativa para elites, mas uma realidade coletiva. O domínio de todos os impérios do mundo vale menos do que aquilo que, agora, está ao nosso alcance: uma vida longa e de qualidade, uma vida com muitos dias, e dias com muita vida. Eis a mudança de perspectiva. Envelhecimento de qualidade é luz!