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Um processo judicial histórico para o Brasil

A justiça não falhou e veio em boa hora!

Por Cleverson Israel 18 min de leitura

Sentença de 11 de setembro de 2025, prolatada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal, condenou Jair Messias Bolsonaro, e seus comparsas, a longos anos de reclusão. No caso do ex-presidente referido, a dosimetria da pena ficou em 27 anos e 3 meses. Pelo visto, a sublevação custou caro. Os acusados responderam pelas condutas penalmente típicas de organização criminosa, golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado de Direito, dano com ameaça e depredação do patrimônio (público). Bolsonaro ainda será processado pelo Tribunal Militar, onde será decidido se sua medalha será cassada, dito de outro modo, se ele será expulso do exército. Os condenados terão de ressarcir o erário, pelo dano ao patrimônio público, o que foi estimado em R$ 30 milhões. Todo vândalo tivesse que pagar o que quebrou, acabaria essa ordinarice perpetrada por biltres. Mas a família Bolsonaro, para além da ação no STF, ainda se depara com o trabalho da Polícia Federal, que apura transferências irregulares de valores, com o fim de evitar constrições judiciais. A título de adendo, o senador Flávio Bolsonaro (PL – RJ) caiu na malha fina da Receita Federal. Com todos estes reveses, os extremistas condenados ainda encontram amparo nas cabeças mais vazias da pátria, como uma cabaça que percute a monocorda de um berimbau. No exterior, Donald Trump é o grande bolsonarista. A propósito, muito oportunamente, o nosso presidente escreveu uma carta aos norte-americanos e outros anglófonos, no The New York Times, pontuando uma série de questões. Aliunde, Lula explica que não se tratou de “uma caça às bruxas”, mas da tentativa de assassínio do presidente (Luiz Inácio Lula da Silva), do vice-presidente (Geraldo Alckmin) e de um ministro (Alexandre de Moraes) do Supremo Tribunal Federal. Lula ainda recordou o óbvio: soberania e democracia não se negociam! Com o 8 de janeiro de 2023, desde 1889, o Brasil contabilizou 15 tentativas de golpes, entre bem-sucedidos e frustrados. A preocupação, agora, do governo federal, é inviabilizar a anistia. Como estratégias para evitar que ela prospere, em primeiro plano será feito um esforço para que ela não seja pautada no Congresso Nacional, a liberação de emendas e negociação de cargos federais nos Estados. (Em tempo: essa escrita já envelheceu. A matéria é agitada em ambas as câmaras, a alta e a baixa. No dia 21 de setembro de 2025, a nação foi às ruas contra a anistia. Todas as capitais tiveram massivas mobilizações populares.) A maneira como Bolsonaro terminou faz-me recordar de quando ele começou. Discutia política com um afim, quando ele me exibiu um vídeo em que um influenciador argumentava: “Do que a esquerda está falando? Disso: orientação sexual, feminismo, direitos reprodutivos, racismo, etc. Enfim, ela fala de valores. Quais são os reais problemas de nosso país? São estes: dívida externa e interna, equilíbrio fiscal, economia, emprego, saúde, educação, desenvolvimento, etc. Eu não preciso de um presidente que me ensine valores, eu preciso de um presidente que resolva os problemas do país. Se eu precisasse de um presidente para me ensinar valores, eu estaria preso em Curitiba!” Em outra postagem, uma mulher dizia, a despeito de suas falas machistas e misóginas: “Bolsonaro não será meu marido, será presidente do Brasil!” Neste momento, em que muitas águas passaram por baixo da ponte, o balaço político da gestão Bolsonaro é a de um líder negligente e relapso, alguém displicente e indolente. O genocida passivo protagonizou um dos maiores entreguismos às empresas privadas, o que não foi noticiado pela grande mídia, e procurou subverter a Constituição Federal, a democracia e a verdade. O sonhado resolvedor de problemas do país amargará vendo o sol nascer quadrado. Justo ele que chamava seu antecessor de “presidiário”. O homem que resolveria os problemas da sociedade brasileira vai trazer mais um problema aos compatriotas: onerará a coletividade com o custeio de sua hospedagem na Papuda, ao preço de um hotel de luxo. Marx disse que os grandes eventos históricos e os grandes personagens ocorrem duas vezes, em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Bolsonaro conseguiu ser farsa, tragédia, e, agora, preso, permanecendo no lugar onde deveria estar há muito tempo, é o herói de sabe-se lá o quê. Donald Trump administra os Estados Unidos da América como se o país fosse mais uma de suas empresas particulares, e Jair Bolsonaro mais parece o gerente de uma filial do aludido mandatário ianque. Com esse processo judicial, o Brasil entra para a história mundial como o país que conseguiu acertar naquilo que os Estados Unidos da América erraram. Estou orgulhoso de nossas instituições, brioso dos trabalhos dos senhores ministros de nossa Corte Suprema. Fazendo coro a Affonso Celso, posso afirmar, a plenos pulmões, que me ufano de meu país. Do planalto central vem um feixe de luz que ilumina todas as unidades da Federação!