Pendurando o quadro na parede para melhor visualização
Algo que se conquistou pelo esforço e pela militância não pode ser relativizado desta maneira!
Por Cleverson Israel 17 min de leitura
Pete Hegseth, Secretário de Defesa dos Estados Unidos da América, defendeu a revogação do direito de voto das mulheres. Este senhor, que comanda as Forças Armadas da maior potência militar do planeta, acha-se onde está, pela livre nomeação de Donald Trump. Aqui no Brasil, as mulheres adquiriram o direito de votar no ano de 1932, momento em que o Executivo Federal era ocupado por Getúlio Vargas. Quando ocorreu a virada de chave, incluindo as mulheres nos processos sufragantes da história política do país, muitos parlamentares alegaram que a regra mudou para que tudo permanecesse igual. Afinal, entendia-se, naquele momento, que as mulheres votariam no candidato indicado por seus respectivos maridos. A vida é assim: as coisas mais importantes, a gente aprende fazendo, errando, refazendo, até acertar. Os direitos das mulheres, só vieram a tomar corpo, pelo exercício reiterado de escolha eleitoral. O direito é aquilo que é tido como tal pela legislação. Logo, parece bastante lógico, que aquela que almeja a titularidade de um direito, deva votar em um representante ou em uma representante que fomente o propósito de colocar em circulação diplomas legais voltados aos direitos do eleitorado, no caso, o público feminino, que lhe delegou a porção de poder que redundou em sua investidura na Casa de Leis. Pela recíproca inversa, deduz-se que vem a ser um absurdo uma mulher votar em um político ostensor de falas misóginas como esta. Essa situação mostra a quantas anda o mundo de hoje, em pleno século vinte e um. Querem fazer não apenas travar a engrenagem da história, mais do que isso, forçam uma marcha à ré. Mais ou menos dentro dos moldes da Santa Aliança, de 1815. Pelo voto, pelo acesso ao ensino superior, e pela integração ao mercado de trabalho, é que a mulher sai da esfera doméstica privada e adentra ao âmbito coletivo público. É disso o de que se trata. Levada às últimas consequências, a subtração do direito de voto das mulheres, terá como seu corolário lógico mulheres confinadas ao espaço familiar, restringidas a serem cuidadoras de crianças, e depositárias dos interesses miúdos dos seus esposos, dedicando-se a cozinhar, lavar, passar, limpar, nada além das prendas domésticas. Os personagens homólogos, aos senhores Pete Hegseth e Donald Trump, da cena política brasileira, são Jair Bolsonaro, este já reconhecido como carta fora do baralho, e toda a trupe de extrema-direita. Portanto, estou tentando trabalhar com a construção de uma tipologia política. É preciso mostrar quem é quem, e também é preciso mostrar qual elemento interno corresponde a tal elemento externo. Cumpre ressaltar em que aguaceiro pequenos e graduais retrocessos desembocarão, a longo prazo, mantendo-se, no curso do tempo, as tendências políticas e jurídicas, como elas se encontram hodiernamente. Daqui sete anos será 2032. O passo para trás, portanto, equivaleria a um retrocesso de um século. O tal secretário é sedizente “cristão”. E sua escolha religiosa seria o fundamento para excluir as mulheres da política. Ainda não consegui compreender qual o nexo entre ser cristão e querer reduzir à condição de infante as mulheres de nossa família. Senão vejamos: Jesus conversou com a mulher samaritana do poço; curou a mulher que sofria com fluxo; disse à prostituta que, se ninguém a condenou, Ele, também, não a condenaria; disse para Marta que, sua irmã, Maria, havia escolhido a melhor parte; disse ao anfitrião que ele não O saudou com um beijo, mas a mulher arrependida enxugou seus pés com os próprios cabelos; parabenizou a mulher cananeia que disse que os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores; tratou com seriedade a mulher que havia lhe pedido excelentes lugares para seus filhos no Reino dos Céus; curou a sogra de Pedro, que estava com febre; disse para as mulheres de Jerusalém que elas deveriam chorar por si mesmas e por seus filhos, e não por Ele; confiou sua mãe, Maria, aos cuidados do seu discípulo João; após a ressurreição, as mulheres foram as primeiras a ver o túmulo vazio. Jesus morreu na cruz para salvar toda uma linhagem, uma linhagem que é filha de Adão e Eva. Dito isto, eu não encontro argumentos plausíveis, filosóficos ou teológicos, argumentos oriundos da seara secular ou religiosa, que possam respaldar a fala da autoridade ianque invocada neste artigo. Deveras, trata-se de uma fala fora de tempo e espaço, fora de contexto, inadequada, inconveniente e inoportuna. É uma estratégia infeliz de catapultar precisamente o voto do cidadão despolitizado e alienado, preso à ignorância, refém de um passado que nunca existiu. Não deixemos que apaguem os luzeiros que ainda cintilam! Quando a escuridão for total, não teremos a chance de sequer poder encontrar o comutador ou a caixa de fósforo, será muito tarde, enfim.