Immanuel Kant, em tom poético, costumava dizer: “O céu estrelado acima de mim, e a lei moral dentro de mim!”. Ele sabia que, a energia que constituía as estrelas, era exatamente a mesma que aquecia e enformava a alma dentro do peito. Este princípio que, religiosos, filósofos e outros sábios, chamam de “Deus”. Depois de cinquenta e oito primaveras, nosso amigo Cláudio, que veio das estrelas, a elas retornou. No dia da despedida, quinze de julho de dois mil e vinte e cinco, Cláudio foi copiosamente chorado, fator este que, assim o creio, permite-me inferir que era intensamente amado por muitos. Mariano Soltys me relatou que fez amizade com Cláudio no espaço universitário, tendo se aproximado dele por transmitir um ar de intelectual, dado que usava óculos, além de ser filho do renomado escritor são-bentense José Kormann. Fui colega de Cláudio no curso de direito da Univille. Frequentemente, ele oferecia carona aos colegas de que necessitassem dessa gentileza, e eu mesmo estive entre os contemplados. Ele também ofertava apoio técnico a colegas e amigos que passavam por dificuldades com seu computador pessoal, ferramenta indispensável a quem é estudante e precisa honrar a entrega de trabalhos acadêmicos. Cláudio era bastante empático e despojado. Alguém com quem facilmente se faz amizade. Em certas famílias, quando o ascendente vai a óbito, deixando expressivo patrimônio, trava-se uma verdadeira batalha judicial pela participação no espólio entre os herdeiros. No caso de Cláudio, a herança jacente deixada não se consome nem pela traça, nem pela ferrugem, pois ela é imaterial. O bem hereditário foi uma mensagem do que realmente importa, o apego aos familiares e às pessoas com quem partilhamos alegrias e somamos forças. O ministro das exéquias, que oficiou as solenidades fúnebres, já visivelmente idoso, fora aluno do professor José. Aliás, diga-se de passagem, havia um time de veteranos de cabelos brancos, e todos eles haviam sido alunos do Doutor José. O enterro foi num cemitério situado na localidade Colônia Olsen, em Rio Negrinho. Na prédica, o ministro dissera: “assim como Deus veio até nós por Maria, vamos nós, por Ela, até Deus”. Ao que foi rezada uma ave-maria. Já repousado o féretro no fundo da cova, o aludido ministro pediu que cada um que ali estava depositasse uma flor de despedida. E iterou: “Cláudio entregará esta flor a Maria. Quando nós estivermos diante do átrio da casa de Deus, seremos recebidos por Maria, mãe de Deus, momento em que reaveremos das mãos Dela a flor que hoje lançamos como homenagem ao recém-falecido”. No guardamento e enterro de Cláudio se fizeram presentes dois filósofos. Em Eclesiastes 7, 2 consta que “Há mais sabedoria num velório do que numa festa de aniversário”. A perda dessa pessoa próxima, nos desaloja, e nos recorda de que os nossos dias sobre esta terra não são muitos. E o pouco que vivemos e o pouco que fazemos está sendo sopesado. E disso todos nós teremos de prestar contas. A inamovibilidade da morte é um desafio, mas também um forte apelo à esperança. Jesus ressuscitou a Lázaro, ele que havia morrido fazia quatro dias. Pela cruz e ressurreição Cristo venceu a morte. E quem morre em Cristo, Nele revive para a eternidade. Vi meus avós falecerem, depois meu pai, e, agora, um colega de estudos, alguém relativamente da minha geração. Estamos, todos nós, avisados. O viver é redefinido pela certeza da cessação da própria vida. Seremos lembrados pelas coisas a que nos dedicamos, por aquilo cuja responsabilidade assumimos. Voltando à biografia do aludido ente querido, Cláudio, nos tempos de faculdade, montou uma chapa para concorrer à representação do Diretório Acadêmico do Curso de Direito. As opções que fazemos revelam nossa personalidade. De fato, Cláudio era predominantemente extrovertido. Gize-se, eu votei nele. O número razoavelmente expressivo de pessoas na última despedida mostra que ele era popular, tinha a capacidade de agregar pessoas. Muito se fala em liderança. Vivemos numa cultura em que todos são estimulados a se tornarem líderes. Todavia, não basta ser um estudante de sucesso em alguma célebre universidade internacional, é preciso edificar vínculos. Essa tarefa que parece ser tão distante e difícil, algo tão natural para o Cláudio. Fiquei feliz ao ver que uma das coroas que ornavam a capela mortuária havia sido remetida em nome do “curso de direito da Univille”. Passados mais de vinte anos, o colega de aula continua gravado na memória dos seus condiscípulos. O tempo passou, as boas lembranças remanescem! Cláudio foi uma estrela cadente: passou por nossas vidas celeremente, mas essa passagem foi de luz intensa, sim, de muita luz! Muito obrigado por tudo, Cláudio!