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A ancianidade do golpe! 60 anos de um equívoco!

31 de março de 1964 foi o dia do último golpe militar dado no Brasil. No início do ano passado (2023) uma nova tentativa foi esquematizada no mesmo sentido, sem efeito, contudo. Quem, à época, em plena década de sessenta, já era adulto, em sua maioria, hoje descansa no parque da saudade. E os remanescentes […]

Por Israel Minikovsky 16 min de leitura

31 de março de 1964 foi o dia do último golpe militar dado no Brasil. No início do ano passado (2023) uma nova tentativa foi esquematizada no mesmo sentido, sem efeito, contudo. Quem, à época, em plena década de sessenta, já era adulto, em sua maioria, hoje descansa no parque da saudade. E os remanescentes têm muita história para contar. Um de meus vizinhos, um gentil senhor apaixonado por gatos, viúvo, relata ter sido cinegrafista em um grande centro urbano no qual ocorria uma manifestação estudantil, e, com a chegada da polícia militar, todos tiveram de deitar-se ao chão. A rajada de metralhadora deixou as suas marcas na parede, numa altura não superior a quarenta centímetros do chão. Ótimo pela adrenalina, se um dia for criada uma máquina do tempo. Hoje pela manhã leio notícias de que o governo chinês determinou a remoção de cruzes em igrejas cristãs. Muitas dessas cruzes estiveram no mesmo lugar, por mais de quarenta anos, e nunca houve problema por conta delas. Isso passa ao cidadão ocidental a noção de que a esquerda é ditatorial. Veja-se que: qualquer regime, de qualquer orientação ideológica, pode ser ditatorial ou democrático. Especificamente no contexto brasileiro, os partidos de centro e esquerda são os mais alinhados com os valores democráticos. Para mim, é o mais coerente de tudo. Como descasar os direitos sociais dos direitos políticos? As novas gerações ignoram por completo o que aconteceu no Brasil em 1964. Nós não podemos deixar morrer a nossa memória política e nacional. Os erros devem ser conhecidos para não ser repetidos. Um reacionário dirá que o golpe de 64 foi necessário para conter o efeito dominó, as revoluções socialistas que vinham ocorrendo ao redor do globo. Se o mundo todo fosse socialista, o socialismo iria funcionar. Os países socialistas, em geral, sucumbiram, em virtude do estrangulamento econômico, adrede promovido pelos países centrais do capitalismo. Alguns indivíduos e corporações são donos de um poder tão grande, que regulam a ação de países e governos. É assim que o socialismo foi combatido, os donos da riqueza do mundo não aceitaram um modelo de sociedade planificado, onde não haveria magnatas, mas todo e qualquer cidadão teria segurança social plenamente assegurada. O golpe militar está calcado na premissa de que o povo é incapaz da democracia, ele não pode gerir a si próprio, não deve ser conscientizado, mas instruído. O protagonismo da nação foi roubado. O milagre econômico brasileiro foi perpetrado à custa do endividamento das gerações não nascidas. A corrupção política era a regra do período. Nada vinha à tona, no entanto. A mídia tinha a participação dela no golpe. Estou falando da mídia hegemônica. Vários foram os testemunhos de profissionais da comunicação que enfrentaram o martírio pela verdade. Vladimir Herzog não vem a ser apenas uma pessoa, um indivíduo, mas o arquétipo do herói que tanto ama a coletividade, que dá a vida por ela. Tristemente, vivemos um ambiente marcado por preconceitos parecidos àqueles que circulavam em alguns espaços sociais sessentistas. O progressismo é tido como desordem, falta de ética e pecado. O desejo de ser feliz, quando externado, é interpretado como rebeldia. A liberdade é um desvalor. A expressão do pensamento sofre censura da parte da própria sociedade, sem que haja um aparelho formal para este tipo de constrição. O estudo é malvisto, o fanatismo louco e cego recebe aplausos. O obsoleto acha-se na crista da onda. Há um descompasso entre a sofisticação das tecnologias e o atraso das mentalidades. A sociedade está polarizada: de um lado, tudo está liberado, do outro, uma repressão a toda espontaneidade, um moralismo ascético e hipócrita. O que viabiliza a construção da própria identidade é aquilo que repilo na pessoa do outro, o que deploro e desprezo. Tudo é feito muito mais pela negação do que não se quer, do que pela afirmação daquilo que se quer. A década de vinte do século XXI assiste a isto: as netinhas que ocupam importantes cargos de autoridade nos poderes, propalam o antifeminismo, graças aos esforços de suas avós, que levaram borracha nas costas pela promoção dos seus direitos políticos, civis e de expressão. Tem lógica? Não atribuímos o correto valor a nossas instituições democráticas por desconhecermos o que elas custaram para estarem atuando e zelando em prol das garantias mais basilares de uma coletividade minimamente organizada. Volte a nós a luz!

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