Inteligência Artificial: nova etapa da automação
Agilizando o quanto pode!
Por Cleverson Israel 17 min de leitura
Dias atrás, caiu no menu do meu smartphone, uma matéria assinada por Aaron Benanav, ou alguém falando sobre este ilustre acadêmico, refletindo sobre o papel social da incipiente tecnologia, a inteligência artificial. A informática funciona a partir de uma linguagem própria, artificialmente criada. Proporcionalmente, são poucos os que dominam o idioma das máquinas, a programação, aquando comparados com os que simplesmente utilizam computadores e outros dispositivos, que trabalham a partir de softwares. A inteligência artificial, no entanto, propôs-se trabalhar a partir da linguagem dos humanos. As máquinas foram treinadas para falar a nossa língua. Nesse aspecto, a inteligência artificial é analógica. A inteligência artificial é descritiva, quando identifica padrões e interage a partir deles, e pode ser generativa, quando cria conteúdo novo a partir do já existente. Muitos acadêmicos, entre eles o acima aludido, encaram a inteligência artificial como uma nova etapa da automação do capitalismo. Num primeiro momento as máquinas começaram a realizar o trabalho físico, e agora, farão o trabalho intelectual. Essa mudança de procedimento no trabalho redundará no aumento da eficiência, agilizando tarefas, e fará com que os velhos ricos continuem sendo os ricos atuais, os ricos novos. Qualquer que seja a inovação tecnológica, a tendência é fazer com que, quem já concentra, que concentre ainda mais. Essa guinada de paradigma surte diferentes efeitos. Um dos consectários é o aumento da padronização do trabalho. Isso traz uma série de vantagens. Para a administração pública, a padronização coopera para a diminuição da discricionariedade, e para o aumento da confiabilidade e da transparência. No Poder Judiciário, a padronização e uniformização trazem maior previsibilidade e segurança jurídica. Tradicionalmente, uma empresa costuma ter maior número de trabalhadores na produção do que no escritório. Com a introdução de máquinas mais rápidas e eficientes, a equação, em alguns casos, inverteu, gerando outra relação de contingência entre recursos humanos manuais e intelectuais. E agora, o enxugamento se dará nos centros de custo burocráticos. Esse conjunto de mudanças impactará a economia lançando ao desemprego quem, antes da IA, imaginava estar tranquilo. O aumento da eficiência das máquinas, dos processos, das redes, dos softwares, configurará uma sociedade de pouca oferta de trabalho/emprego/renda. Nesse panorama é que se fala em renda universal. O Estado proverá cidadãos e famílias com renda mínima, não só por assistência social, mas principalmente para fomentar a economia, dado que não haverá meios outros para que todos aufiram renda, por meio da venda da força do trabalho, como sempre ocorreu no pretérito. Entrementes, quem ainda tiver interesse e disponibilidade para trabalhar, falo de uma iniciativa absolutamente espontânea, além da renda universal e incondicional, ainda terá essa renda extraordinária, oriunda de sua atividade laboral. Karl Marx viu, no capitalismo do seu tempo, a antecâmara para o socialismo. O desenvolvimento das forças produtivas acarretaria uma sociedade livre. Livre de dominação e livre do dever do trabalho. Com essa nova onda, dentro da Revolução Industrial que, de certo modo, ainda se acha em curso, retorna a promessa. E fica a pergunta: as máquinas serão capazes de criar o paraíso sobre a terra? O trabalho é o que nos liberta ou o que nos escraviza? O poeta romano Virgílio dissera: “Labor omnia vincit!” Em português, “O trabalho duro vence tudo!” No entanto, o trabalho poderá superar o próprio trabalho? Dito de outro modo, nosso trabalho poderá ser canalizado para máquinas, robôs, sistemas, processos, etc, a fim de que eles façam o que caberia a nós fazermos? Os robôs humanoides, hodiernamente disponíveis, representam ter o nosso corpo, e a inteligência artificial parece ter a nossa alma. Entre as duas expectativas extremas, a de que essa inovação potencializará os aspectos exploratórios latentes no modo de produção capitalista, e a de que esse progresso liberará os humanos do seu maior compromisso, que é o trabalho, propiciando o céu na Terra, prevalecerá a terceira via, seja ela, viveremos num capitalismo mais domesticado, aquele em que continuaremos carregados de responsabilidades profissionais e civis, inobstante, assistidos por instrumentos rígidos e suaves, que nos auxiliarão na realização dos nossos muitos fazeres. Mais do que celebrar ou deplorar a inteligência artificial, devemos nos qualificar como seus usuários, sem perder de vista que nós, sempre nós, seremos os protagonistas, sendo a tecnologia, seja ela qual for, sempre uma auxiliar, ainda que uma cabulosa auxiliar. Uso responsável de tecnologia é luz!
