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Teerã: um exemplo de desastre “natural” (?)

H2O

Por Cleverson Israel 18 min de leitura

Teerã, capital do Irã, e motor da economia do país, depara-se, agora, com falência hídrica. A cidade é habitada por dez milhões de pessoas. Se, contudo, considerar-se a área metropolitana, o número de residentes sobe para dezoito milhões. As barragens estão ressequidas, e a maior delas e mais importante, exibe capacidade igual ou inferior a dez por cento do total, tamanha é a criticidade. Em várias províncias do país não ocorre precipitação pluvial há meses. Na prática, estamos a falar de seis anos consecutivos de seca. É a pior seca em um século. A situação hídrica reflete fenômenos naturais potencializados por urbanização acelerada, crescimento populacional, falta de infraestrutura e irrigação excessiva. O Oriente Médio, historicamente, é uma região de menores níveis de chuva e umidade. No livro de Gênesis é narrada a estiagem no território egípcio, em relação à qual José propõe um planejamento, voltado à segurança alimentar dos súditos do faraó. A história e a arqueologia registram o declínio de coletividades prósperas, em razão da superveniência de mudanças climáticas. No entanto, o que quero dizer, é que estamos num momento diferente. Muito embora saibamos que o clima é dinâmico, apresentando diversas variâncias ao longo de uma escala projetada para medidas geológicas, o assunto deste artigo versa sobre ações antrópicas cujos efeitos percutem em todos os pontos do globo. Estamos lançando milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, todos os anos, superaquecendo o planeta, alterando ritmos e ciclos. A ONU declarou o período compreendido entre os anos 2026 e 2035 como a década para o Transporte Sustentável. Precisamos de um sistema de transportes, de pessoas e cargas, mais resiliente às mudanças climáticas. Reforçar o uso do transporte público, aumentando sua densidade, tirando de circulação veículos particulares, e fazendo uso da matriz elétrica, sub-rogando a matriz fóssil, é um excelente começo. A indústria deve priorizar processos que reutilizem a água empregada em suas atividades. Existem mudanças climáticas de rápida evolução e outras de lenta evolução. Exemplos de mudanças de rápida evolução são: tornados, ciclones, tempestades, enchentes, etc. Exemplos de mudanças de lenta evolução: aumento do nível dos oceanos, aumento da temperatura média do planeta, etc. O que precisamos entender é que ambas as mudanças, de lenta e rápida evolução, estão interligadas. Por isso mesmo, é errado querer mitigar os fenômenos de rápida evolução, postergando para as próximas gerações as mudanças mais lentas. As sociedades do passado, que deixaram de existir por conta de estiagens ou outras mudanças climáticas, não tinham o conhecimento científico e as tecnologias que temos hoje. Além do mais, hoje temos os canais pelos quais é possível conscientizar as pessoas a respeito do uso racional, correto e responsável dos recursos naturais. Teerã acendeu um alerta para todas as megalópoles do mundo. Planejamento, planejamento, planejamento. Os burocratas de todos os governos do mundo, seja na esfera municipal, provincial ou nacional, devem empenhar-se em conhecer os caminhos de contração de empréstimo junto a organismos internacionais a fim de que as cidades fiquem mais resilientes às mudanças climáticas. Nem toda dívida é igual. A dívida “despesa” é distinta da dívida “investimento”. Para cada dólar investido em infraestrutura e urbanismo, comprometido com meio ambiente, bem-estar social e governança, retornam para o erário quatro dólares. Esta é a equação. A visão a longo prazo é outro tema que deve se tornar caro aos governos de todo o mundo. A vida das comunidades é mais do que o aqui e agora. Temos que ficar atentos à “pegada hídrica” e à “pegada do carbono”. Em Teerã as pessoas fazem longas orações suplicando a Deus a bênção da chuva. É errado fazê-lo? Não, de modo algum! Deus é poderoso e pode mandar chuva na hora em que quiser. Pondero, somente, que esse mesmo Deus nos deu cabeça para pensar. Precisamos trabalhar com esse dom que Deus nos deu, a inteligência humana. Estratégias como arborização, que resultam em maior equilíbrio e estabilidade da temperatura e da umidade, sistemas de captação e guarda dos volumes espontâneos das chuvas, diminuição do lançamento de gases produzidos pela geração de energia e pelos meios de trânsito e transporte, e uma série de outras mais, poderiam ter evitado ou, ao menos, retardado o ponto sensível em que, neste momento, acha-se Teerã. Em não havendo uma guinada meteorológica em poucos dias, Teerã terá de ser evacuada, ante o “zero absoluto” da (in)disponibilidade de água. A urgência climática impõe que abandonemos nossas diferenças econômicas, políticas, religiosas, culturais, idiomáticas. Ou nós nos unimos e construímos o consenso, ou todos pagaremos um preço muito caro. Basta refletir um pouco para saber qual das duas opções é a melhor. O despertar da consciência ambiental e climática é o acendimento de uma luz que não pode mais tardar!

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