Conduta pública e privada: quando os limites se cruzam
Um vídeo amplamente compartilhado nas redes sociais em Santa Terezinha levantou discussões importantes sobre conduta, responsabilidade e o papel dos agentes públicos fora do ambiente institucional. Nas imagens, o atual secretário de Saúde, João Eduardo Fernandes, aparece, durante uma festa particular, manuseando um artefato pirotécnico em ambiente fechado, cercado por outras pessoas.
Embora o episódio não tenha, ao que tudo indica, causado consequências graves — além de relatos não confirmados de queimaduras leves —, o gesto chama atenção por se tratar de um servidor público de alta responsabilidade, cuja imagem está diretamente vinculada à gestão da saúde de um município inteiro.
A Constituição Federal é clara: todos têm direito à privacidade e à inviolabilidade de sua imagem e honra. Por outro lado, quando um agente público ocupa função de confiança, sobretudo em áreas sensíveis como a saúde, suas atitudes pessoais passam a ter reflexo na percepção coletiva de sua conduta pública. É aqui que a linha entre o privado e o institucional se torna tênue e, muitas vezes, controversa.
O caso ganha ainda mais peso num contexto em que a própria Secretaria de Saúde do município enfrenta desgastes. São recorrentes as manifestações de descontentamento nas redes sociais — desde relatos de má qualidade no atendimento até protestos simbólicos contra a precariedade em exames, estrutura e atenção básica.
É preciso reforçar que a liberdade individual não pode ser tolhida, mas também não pode ser usada como escudo para ações que coloquem em risco a segurança de terceiros, ainda mais se feitas por representantes da administração pública. A conduta de quem ocupa cargo de liderança deve estar alinhada ao interesse público, inclusive em seus momentos de lazer, pois o exemplo é uma das ferramentas mais poderosas de influência.
O episódio deve servir de alerta não apenas para quem protagonizou a cena, mas para toda a gestão municipal. A transparência e o compromisso com a ética devem ser valores incorporados não só nos gabinetes, mas também nas atitudes cotidianas — públicas ou privadas — de quem se comprometeu com a função de servir.
O uso inadequado de fogos em ambiente fechado, além de um risco à integridade física, é uma mensagem equivocada para uma comunidade que, legitimamente, espera responsabilidade e sobriedade daqueles que ocupam cargos públicos.
A sociedade observa. E cobra.