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Redes Sociais Virtuais: para que servem e por que existem

Nós, os títeres!

Por Cleverson Israel 18 min de leitura

O ser humano é naturalmente gregário. Essa característica ele partilha com abelhas, formigas, cupins, plantas, bactérias e fungos. Se você quer que o outro se torne seu peixe, como sugere o evangelho, ou para empregar outra terminologia, seu cliente ou eleitor, é necessário compreender a sua dinâmica. Imagine um articulista, querendo convencer o público leitor de um periódico, de uma convicção qualquer, política ou econômica, de maneiras que ele maneja numerosos argumentos, até chegar à conclusão final, depreendida das muitas alegações anteriores. Imagine, ainda, que a conclusão a que nos referimos na oração anterior, ingresse como título ou cabeçalho de uma matéria jornalística, permutando de lugar, saindo do ponto terminal para acomodar-se no local conceitual do ponto de partida. Pois é exatamente isto o que a mídia faz! Ela dá como aceita aquela tese carente de demonstração. O que é uma opinião, o que é uma crença infundamentada, espalha-se como se fosse um fato consumado, uma ocorrência incontroversa. A torção da realidade nasce junto ou até antecede a chamada de capa. Bem, outra característica que acompanha o ser humano é a lei do menor esforço. As pessoas não querem acessar sites exclusivos de notícias. É muito trabalhoso! As pessoas já se acham bem informadas. Assim que a pessoa vai navegando na rede, ela é bombardeada por mensagens curtas remetidas por robôs. Essas mensagens têm o formato descrito acima. Portanto, o entendimento do internauta é meticulosamente construído. Sem perceber, o internauta é condicionado a comprar um determinado produto, em determinado lugar, suas escolhas econômicas, consumeristas, políticas e religiosas são sub-repticiamente impostas. O comportamento do ser humano é previsível. Uma vez identificado esse padrão, passa a existir a possibilidade de ampla manipulação de resultados, o indivíduo comporta-se como deseja o remetente das mensagens. O sistema ativador reticular ascendente constrói a consciência. O que por milênios foi um mistério para filósofos e outros sábios, parece ter sido desvendado pela psicologia e pelas máquinas. A tecnologia, no fundo um combinado de instrumentos, tem sido usada para instrumentalizar o ser humano, invertendo as posições entre meios e fins. A partir do momento em que você registra uma conta em uma rede social virtual, e adiciona outras pessoas, vê a si mesmo como um produtor de conteúdo, como emissor de opiniões. Você se acha um sujeito relevante, ou ao menos validado socialmente, crente de que está influindo sobre o modo de pensar das outras pessoas. A verdade, porém, é que o exercício da sua discricionariedade é ilusório. Não é você que forma a rede, é a rede que forma você. Os parâmetros da comunicação são dados de antemão, sem que você perceba. Nas redes sociais são promovidas campanhas de desqualificação de indivíduos, de figuras políticas e de ideologias. Sentimentos negativos em geral, e muito ódio, mobilizam bem mais do que ideias estruturadas logicamente. Produtores de conteúdos veem sua monetização despencar porque defendem ideias e interesses antagônicos aos dos gestores das redes. A realidade concreta é apenas uma realidade. A realidade da rede social virtual é uma super-realidade. O propósito inicial da rede é, sim, enriquecer os proprietários das empresas que a administram, bem como aos seus anunciantes e patrocinadores, mas seu alcance vai bem além disso. A rede tem o poder de gerar comoção coletiva mundial. Para ramos de atividade econômica tradicionais, o mercado parece ser o elemento intransponível, a instância que carece ser compreendida, para então se fazer a ingerência adequada. Para as empresas de mídia é diferente: elas alteram a qualidade e o comportamento do mercado. Elas despertam o desejo, o afeto, a predileção, o interesse, o juízo de valor do consumidor. Como a abelha poliniza árvores centenárias, e faz o milagre da frutificação acontecer, somos esses elementos volantes no emaranhado das redes sociais virtuais. José Ingenieros dizia: “Reuni mil gênios num concílio e tereis a mais perfeita alma de um idiota”. Fiz esta transcrição para dizer que nossa individualidade se dissolve no coletivo. Se não for impossível, é muito difícil manter a autenticidade e a genuinidade no foro público. Isso é verídico para as redes sociais tradicionais, e maiormente verdadeiro para as redes sociais virtuais. A tecnologia da informação cumpre, hoje, o papel de administrar o mundo. Ser excluído ou bloqueado pode ser muito pior do que suportar as inflições físicas do passado. A proposta, desde os tempos remotos, é que você não pense, mas, simplesmente obedeça. E para que ninguém invoque o argumento de que, por razões de ordem pragmática, é necessário e imperioso pensar, deu-se este problema por solucionado de uma vez por todas, inventaram uma máquina de pensar. Vivas à inteligência artificial!