Paternidade é a qualidade daquele homem que é pai. É algo que se adquire pelo congresso sexual com uma mulher, do qual resulta a concepção. Por conseguinte, independente de qual seja a natureza da relação entre pai e filho, se há afeto ou não, se há validação ou não, a paternidade está estabelecida. Já o termo “paternagem” é bem menos abstrato. Paternagem é a paternidade responsável, aquela em que o pai ama, orienta, ajuda, colabora, educa, ensina e participa. Nunca se falou tanto, nos últimos anos, aqui no Brasil, sobre homeschooling ou educação domiciliar. A realidade do país é que, no geral, a maior parte das famílias apresenta perfil de privação cultural severa. Então, é de se questionar o que ensinaria, ao seu filho ou à sua filha, um pai ou uma mãe que não tem conteúdo nem para si (?). Como conciliar jornada de trabalho e fazer sobrar tempo para escolarização no seio do ambiente familiar? Entretanto, ao invés de criticar esta novel metodologia didática, – novel, em termos, ela existe desde a Antiguidade, e o fato é que ela caíra de moda, – preferimos defender a metodologia tradicional. Nem todos os argumentos serão invocados, mas selecionei um que, em meu entender, é escassamente usado, o que contrasta com a sua relevância. A educação tradicional permite aos pais do aluno firmar validação epistêmica. Isto é aplicável a todas as disciplinas, mas, com maior razão, às exatas. Quando o estudante chega em casa, e se depara com a dificuldade de realizar as tarefas, surge a oportunidade de o responsável ofertar ajuda. O resultado do cálculo feito em casa é aquele que figura no livro do professor, o que significa que o procedimento foi efetuado do modo correto. Esse consenso epistêmico aponta para a validação dupla, a validação de acordo com a qual a escola ensina o que é correto, e que os pais ensinam o que é correto. Dito de outro modo, o padrão é universal. A família certifica a ensinagem escolar, e ela, por sua vez, além de ser certificada, também certifica o apoio familiar. Claro, alguém poderia acusar o círculo vicioso, pois o fato de A respaldar B, e B respaldar A, poderia levantar a tese da suspeição. Alegação correta, do ponto de vista lógico e moral, todavia, ainda é mais cômoda essa remissão recíproca, do que uma metodologia sem nenhum tipo de fiscalização ou ratificação externa. Essa singela explanação tem um alcance de ampla envergadura: trata-se de perquirir os meios pelos quais se obtém a verdade, ou como ela é construída ou consolidada. Eu creio que a sensação experimentada pelo estudante/filho é de segurança. Partindo do pressuposto de que a situação inversa, a discordância, traria consigo o efeito da insegurança e perplexidade. A lógica é a concordância do pensamento com ele mesmo. Um pensamento consequente, radicado na própria realidade, derivado de aspectos objetivos, transmitiria segurança e serenidade ao estudante. Ficaria estabelecido que a fonte do conhecimento é a conexão com a empiria e a consectária concatenação pensamental, colocando no seu devido lugar as dimensões valorativas e ideológicas. Políticos e religiosos fazem da mente um campo de batalha. Cabe à escola e à família, fazer da mente um espaço virtual de descanso, um recôndito de harmonia. Na seara do conhecimento, convenções são necessárias. Porém, nem tudo é convenção. A natureza é regida por leis inafastáveis. A instrução pública, homologada pela célula familiar, aponta para a verdade de que o conhecimento não é algo inventado, mas um guia útil e imprescindível que se leva para todas as situações de vida, durante e após o egresso do ambiente escolar. O que se ensina aos filhos, destarte, não é e nem deve ser um capricho pessoal, uma crença ou convicção personalíssima, e sim, o resumo da experiência humana organizada e sistematizada, transmitida didaticamente. Indo aos finalmentes, pondero ainda que, para além da validação recíproca na esfera cognitiva e epistêmica, emerge uma outra validação, de caráter filosófico e existencial. Os pais firmam sua autoridade não só como mestres do conteúdo escolar, na medida em que se oferecem como suporte de estudos no lar, mas como mestres para a vida. Todo indivíduo se espelha em outro, ou em outros, à busca de referências. Em que pese isto, lado outro, é muito difícil conseguir sermos referência para alguém, ainda que esse alguém seja nosso próprio filho. Exercer esse dever, o de responsáveis pedagógicos, é uma porta aberta servível a esta meta, à de sermos o referente para quem mais amamos. Os psicólogos sugerem um misto de afeto e limite. Não está errado. O de que necessitamos é explorar a trajetória escolar como uma possibilidade de criar vínculos profundos entre ascendentes e descendentes. Escolarização é luz!