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Histeria Coletiva

A palavra “histeria” vem do grego e significa “útero”. Antes de Freud o termo era empregado apenas para o gênero feminino. Mas o pensador austríaco percebeu que a alma masculina também adoece. Jung foi o primeiro grande dissidente da psicanálise. Com seu conceito de “inconsciente coletivo” rompeu com a ortodoxia do mestre. Mas a crítica […]

Por Israel Minikovsky 12 min de leitura

A palavra “histeria” vem do grego e significa “útero”. Antes de Freud o termo era empregado apenas para o gênero feminino. Mas o pensador austríaco percebeu que a alma masculina também adoece. Jung foi o primeiro grande dissidente da psicanálise. Com seu conceito de “inconsciente coletivo” rompeu com a ortodoxia do mestre. Mas a crítica junguiana merece receber provimento. O ser humano, como outras espécies de animal, também, por vezes, é tomado pelo espírito de manada. O indivíduo se sente superpoderoso pela identificação de estado de espírito. Sim, muito mais uma postura psicológica, do que propriamente uma ideia, verdade ou ideologia. Entretanto, nestas horas, muito cuidado! Aquele em quem você acredita encontrar um aliado poderá ser o primeiro a lhe agredir. Porque o indivíduo pensa pouco e, o coletivo, quase nada. O filósofo burguês John Locke defendeu o direito à desobediência civil. Todavia, ela só recebe respaldo quando o próprio governo passa por cima da lei e da Constituição. Entrementes, as últimas manifestações a que temos assistido estão calcadas no inconformismo ao adimplemento das normas e da democracia. Por conseguinte, não lhes assiste razão jurídica ou filosófica aquando de sua desobediência. As urnas existem para isto: para que o critério de empoderamento das autoridades seja numérico, favorecendo quem reúne a maioria, dado que a unanimidade é raríssima. Quem contesta o resultado do sufrágio, simplesmente por ter figurado no polo vencido, faz coisa ilegal e imoral. A Constituição e a legislação eleitoral são expressão de um tipo de racionalidade que visa atender isonomia e segurança jurídica, além de estabilidade social. E essa grei que contesta a expressão máxima de uma sociedade democrática, e assentada na legalidade, sugere que as instituições jurídicas devem ser flexibilizadas ou derribadas por completo, em nome de um tipo de ética cujo nível de superioridade paira acima das formalidades procedimentais. Aqui, exatamente aqui, está o erro! A própria atitude de rejeição das regras do jogo denuncia a clandestinidade do movimento. Meu candidato venceu. Todavia, de nada me aproveitaria a vitória no certame, caso eu soubesse que ela derivou de fraude, de um movimento paramilitar, violento ou de alguma forma ilegal. Retomemos a sobriedade. Sejamos lógicos, consequentes e responsáveis. Fazer algo importante na vida, movido exclusivamente por emoção, só dá certo com a mesma chance de probabilidade de atirar no escuro, ao acaso, e abater a caça. Pouco antes de Bolsonaro ser eleito presidente da República, o tom do discurso era este: o PT defende o combate ao racismo, prega tolerar a diversidade sexual, incentiva a liberdade de consciência religiosa, exalta a justiça social, quando o problema do país seria econômico, administrativo, técnico, de gestão. Pois bem, o tal Bolsonaro, empossado, fez chacota de comunidades quilombolas, nomeou ministros para a educação que são contrários aos maiores interesses dessa política, foi negligente para com a saúde pública, absolutamente nada de marcante e positivo deixou aos brasileiros. Direitos sociais, trabalhistas e civis, despencaram do penhasco em queda livre. E, agora, com toda essa gestão, com toda essa perícia, com todo esse tino administrativo, se quer reconduzir o perdedor à chefia do Executivo Federal porque, afinal, ele é o homem de Deus, da pátria e da família! É mole? Pode isso?

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