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Função da vírgula neste planeta

Dias atrás, meu querido filho, Mateus Levi, chamou minha atenção para a variância gramatical decorrente do uso da vírgula. Ele me disse: “Veja só, pai, alguém pode me dizer: ‘Eu vou dar tchau!’, ou, ‘Eu vou dar, tchau!’”. Brincadeira de criança? Convido o amável leitor a interpretar a frase que encontrei na chamada de capa […]

Por Israel Minikovsky 14 min de leitura

Dias atrás, meu querido filho, Mateus Levi, chamou minha atenção para a variância gramatical decorrente do uso da vírgula. Ele me disse: “Veja só, pai, alguém pode me dizer: ‘Eu vou dar tchau!’, ou, ‘Eu vou dar, tchau!’”. Brincadeira de criança? Convido o amável leitor a interpretar a frase que encontrei na chamada de capa de importante órgão de comunicação privado do Brasil: “A bola dentro de Lula contra Elon Musk”. O que significam estes dizeres? Tentativa número um: “A bola, dentro de Lula, contra Elon Musk”. Tentativa número dois: “A bola dentro, de Lula, contra Elon Musk”. Ainda que leiamos os mais consagrados autores da língua portuguesa, nos depararemos com escorregadelas linguísticas. Diria que é impossível mesmo, escrever sem cometer gafes gramaticais. Com efeito, calcado nesta premissa, entendo que não me é lícito exigir em outrem o que não cumpro em mim mesmo. Desse modo, visando afastar-me dos extremos, o oito e o oitenta, defendo um meio-termo. E que bendita atermação seria esta? Ela consiste em satisfazer o zelo de uma comunicação assertiva, minimamente isenta de ambiguidades. O título de uma matéria, constante em renomado órgão de imprensa não pode, em hipótese alguma, confundir o leitor, ao invés de esclarecer-lhe o que se passa no mundo. A maior traição é a traição de propósitos. A linguagem existe para colocar ordem nas ideias e, como consectário, nas condutas. Já que esbarrei por acaso neste assunto, permito-me fazer uma digressão, saindo da forma e indo para o conteúdo. A internet não pode ser uma terra-sem-lei. No passado, o que tínhamos, era a televisão, o rádio e as mídias impressas. Por conseguinte, era muito mais fácil ao governo supervisionar as atividades jornalísticas e de entretenimento. Com a internet, tudo fica muito mais complexo e difícil. Ela é um oceano de navegação. Prova disso, é que, tão logo a rede de computadores foi criada, já se popularizou o termo “internauta”. A interatividade da rede é uma ferramenta de empoderamento dos usuários, ao passo que também vulnera as pessoas de menor preparo que frequentam o ambiente virtual. Todas as regras sociais existem para nos proteger e para proteger a coletividade enquanto algo maior do que a simples soma das unidades. As regras gramaticais que uniformizam o exercício da expressão colimam o entendimento entre os seres humanos; as regras de ética, para os canais de interação, procuram zelar pela sacralidade do foro íntimo e da imagem dos usuários. Nenhuma sociedade, por mais primitiva que seja, consegue viver sem um código de regras, sejam elas escritas ou orais. Já vem tarde esta preocupação com o marco regulatório das empresas que atuam na internet. A lei já tem algum tempo, mas o ambiente que ela procura abranger é, de per si, intensamente dinâmico. Existe toda uma gama de produtos ou serviços voltados ao público infantojuvenil, e nem sempre os pais conseguem supervisionar a trilha que os seus filhos percorrem nesse labirinto de oportunidades. O que está fora do controle da instância privada, não pode ser de ninguém, ali deve ingressar a iniciativa pública. A cada um, segundo o perfil da demanda. As leis são umas das ferramentas mais eficientes que derivam da atividade política. E a política existe em nome de resolvermos nossos problemas pacificamente. Os parlamentares, portanto, precisam debater muito, entre si e com a sociedade, para que cheguemos a um acordo sobre o modo correto de usar a rede de computadores. Não só o Legislativo, mas o Poder Federal tem envidado esforços para que a matéria seja disciplinada da melhor forma. Disciplinar a matéria já é algo acertado. Fazê-lo com maestria é excelente. Talvez, este esteja sendo o motivo pelo qual o presidente da República figura como merecedor de elogios. Não sei se, dentro ou fora, mas com certeza, ao posicionar-se diante da fala do super-rico Elon Musk, Lula provou estar com “a bola toda”, neste país que, para surpresa dos gringos, é bem mais do que futebol!

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