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Apoie uma editora!

Tenho recebido e-mails com essa proposta: “Apoie uma editora!” ou “Apoie uma livraria!” e similares. A ideia, portanto, deixou de ser efetuar a aquisição de um bom livro, para converter-se em um ato de caridade. Sem dúvida, ser patrocinador da cultura é encampar uma causa tão nobre quanto protagonizar benfeitorias a um orfanato ou casa […]

Por Israel Minikovsky 12 min de leitura

Tenho recebido e-mails com essa proposta: “Apoie uma editora!” ou “Apoie uma livraria!” e similares. A ideia, portanto, deixou de ser efetuar a aquisição de um bom livro, para converter-se em um ato de caridade. Sem dúvida, ser patrocinador da cultura é encampar uma causa tão nobre quanto protagonizar benfeitorias a um orfanato ou casa de saúde. O convite itera a noção de que o brasileiro está mais propenso a querer ser um cidadão de bem do que alguém interessado na sua formação intelectual. O que me coloca numa condição desconfortável é um bocado da sensação de que a cultura começa a exibir um aspecto mendicante. Não seríamos nós a precisar da cultura, mas ela careceria de nosso dinheiro. Invertem-se os valores. Os bens do espírito estão a se dobrar aos bens materiais. A realidade que se antepõe aos nossos olhos é esta: produtos culturais são os itens lanternas do nosso rol de utilidades. Essa conjuntura empírica corroboraria duas teses. A primeira tese é o materialismo histórico, ou seja, o entendimento de que, antes de sermos leitores, cultores das letras e dos saberes, precisamos nos alimentar, nos vestir, nos locomover, morar, trabalhar, etc. A segunda tese aponta para uma espécie de mediocridade: nós nos contentamos com os bens do corpo, não reconhecendo como apetecíveis bens imateriais. Nesse sentido, a ausência desse tipo de necessidade se liga a um estágio de desenvolvimento mental, social e cultural embrionário, que não vislumbrou o essencial, “invisível aos olhos”, consoante Saint-Exupéry. Eu penso que o ser humano precisa apoiar a si mesmo. No geral, estamos perdidos e não nos demos conta do perdimento. Sim, porque o desnorteado, que se percebe como tal, vai à busca de si nos clássicos do pensamento. E se hoje já não se faz esta busca não é por estarmos situados, porém, iludidamente afagados pela mera sensação de segurança. A questão é: qual o critério orientador de nossas escolhas? Da escolha mais íntima e pessoal ao exercício político de nossa cidadania? Apoiar uma editora, ante a pergunta imediatamente anterior, é uma atitude consistente em esclarecer a si mesmo as próprias razões. É puxar o cérebro de nossas deliberações dos pressupostos e subentendidos para o plano dos pensamentos completos e iluminados. Apoiar uma editora é tratar não só do ser humano que queremos ser, senão ainda do tipo de profissional que pretendemos atuar. Ninguém é perito em seu próprio ofício prescindindo-se de muita leitura. Isto é tão mais verdadeiro se você trabalha predominantemente com pessoas e informações. O conhecimento lhe permite otimizar o uso das informações postas ao seu alcance. Não há nada nesta vida que consiga passar ao largo da chamada “viabilidade econômica”. Pondero, contudo, que o ser humano não existe para servir ao dinheiro, do contrário, o dinheiro é o instrumento que nos permite adquirir o conjunto de meios que redundarão em nossa realização pessoal. Existem causas extremamente meritórias e mui honoráveis do ponto de vista estritamente moral que, além de não gerarem riqueza monetária, consomem quantias consideráveis de recursos financeiros. Sendo assim, precisamos ter a grandeza de reconhecer: submeto-me a tais e tais exigências para ganhar a vida, inobstante, me reservo o direito, a garantia e a prerrogativa de reverter parte dos meus ganhos em cultura, porque isto vale à pena, isto me faz ver como sou, um humano, um ser cultural. Cultura é luz!

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