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Abril e Maio

“Abril” vem do latim, “Aprilis”, que significa “abrir”. É uma menção à germinação das culturas. Como se sabe, a agricultura veio a ser a primeira grande atividade laboral a demandar esforço intenso e continuado. Coincidência, ou talvez não, abril inaugura as calendas que nos despertam para o mundo do trabalho e seus conflitos. Em 1917, […]

Por Israel Minikovsky 16 min de leitura

“Abril” vem do latim, “Aprilis”, que significa “abrir”. É uma menção à germinação das culturas. Como se sabe, a agricultura veio a ser a primeira grande atividade laboral a demandar esforço intenso e continuado. Coincidência, ou talvez não, abril inaugura as calendas que nos despertam para o mundo do trabalho e seus conflitos. Em 1917, Lênin retornou à Rússia, e escreveu as famosas Teses de Abril, em que condensa sua proposta política em curto alcance, isto é, assegurar ao povo russo paz, terra e pão. A Primeira Guerra Mundial vinha desgastando a paciência da opinião pública, urgia a realização de uma reforma agrária, e o problema econômico-social atingia a maioria, consistente na carestia de recursos alimentares, sinalizando que sequer o básico era acessível para o cidadão mediano. Esse tripé teórico-conceitual, aparentemente tão singelo, foi a troika que revolucionou a Rússia, e, a partir dela, a configuração geopolítica do planeta inteiro. Em 17 de abril de 1996 houve aquilo que se convencionou chamar “massacre de Eldorado do Carajás”. Eldorado do Carajás é um município do sul do Estado do Pará. O tal massacre chacinou 21 pessoas, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em razão da ocupação de uma propriedade particular improdutiva. A ocorrência foi um marco político na história do Brasil. O triste episódio mostrou que, à época dos fatos, e na realidade ainda hoje, as Teses de Abril continuam válidas e atuais, atravessando décadas e fusos horários, abrangendo diferentes culturas e gritantes amplitudes térmicas, exprimindo a noção de que Lênin, além de grande político, foi um intelectual peso pesado. Fosse pouco todo este simbolismo do mês de abril, o primeiro dia do mês imediatamente seguinte, maio, é dedicado ao trabalho. Em 1° de maio de 1886, em Chicago, trabalhadores em greve foram executados, ideologicamente alinhados com o anarquismo ou com o socialismo. Para a maior parte das pessoas dos dias de hoje é complicado entender porque no século XX vingaram teorias políticas tão radicais, como o socialismo, o nazismo, o fascismo e similares. Coloquei aqui o socialismo simplesmente porque, tal como foi praticado, é digno de fazê-lo caracterizar-se como despótico. Bem, é que o século XX foi, do princípio ao fim, violento, muito violento. As péssimas condições de trabalho de operários e camponeses, os baixos salários, a rivalidade entre os próprios capitalistas, e as guerras entre os Estados nascentes, a fraca estruturação do Estado e seus serviços públicos e políticas sociais embrionários descambaram para instabilidade política e social. O partido nacionalista alemão (partido nazista) só insinuou ser “nacional-socialista” porque o socialismo estava na moda. A instabilidade social do continente europeu entronizou quase todos os grandes ditadores do mundo, no período referido. Situações caóticas tendem a conceber soluções radicais e pouco inteligentes. A assimetria da distribuição da riqueza condena as coletividades ao desequilíbrio social. Fosse pouco essa já exagerada influência dos super-ricos, eles ainda se utilizam do aparato militar dos Estados para promover guerras. Donos da maior parte do dinheiro que circula pelo globo, se servem da violência militar-institucional, alongando seu poder financeiro. O que o povo deve fazer, como medida de autoproteção, é isto: defender a democracia, colocar a política no centro, e não o capital. É por meio do Estado, da democracia, das suas leis, das suas instituições, que o trabalhador pode fazer reconhecer a valia do que ele oferece à sociedade. A história está a repetir-se: o trabalhador se acha juridicamente desprotegido, vivemos uma recessão democrática mundial, os conflitos armados se ampliando horizontalmente e em nível de escalada (intensidade e gravidade). Cá estamos nós na segunda década do século XXI: procurando por paz, por terra e por pão. Mais de um século se passou e perduram os mesmos problemas, em que pese a alteração de roupagem. Mudou-se a aparência, prevalece a essência. As Teses de Abril parecem ser as teses de todos os meses, de todos os anos, de todos os lugares. Intelectuais, donos de meios de comunicação social e militantes, precisamos nos dar as mãos, porque a missão que nos está sendo confiada é nada mais nada menos do que isto: salvar o mundo e a humanidade. Luz!

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