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A Argentina de Milei

Quem usava a Venezuela como o grande exemplo de fracasso político do esquerdismo, agora tem de conviver com a realidade de que a inflação na Argentina, conduzida por um ultradireitista, seja ele, Javier Milei, supera aquela verificada em território venezuelano. Milei, agora, vem a ser o títere de Washington. Ele brindou seu país com a […]

Por Israel Minikovsky 15 min de leitura

Quem usava a Venezuela como o grande exemplo de fracasso político do esquerdismo, agora tem de conviver com a realidade de que a inflação na Argentina, conduzida por um ultradireitista, seja ele, Javier Milei, supera aquela verificada em território venezuelano. Milei, agora, vem a ser o títere de Washington. Ele brindou seu país com a contração de um endividamento da ordem de US$ 3,7 bilhões. Este vem a ser o custo da sua estabilidade política ao longo de passageiros quatro anos. Praticamente todas as arestas estavam aparadas quando o assunto em questão era o ingresso da Argentina no BRICS. O BRICS, um bloco econômico com banco próprio, hoje presidido pela economista Dilma Rousseff, inclui China, Rússia, Brasil, África do Sul, Índia, Egito, Arábia Saudita, Irã, Etiópia, Emirados Árabes Unidos. Os membros comercializam com suas próprias moedas, e não com o dólar. Esse detalhe, por si só, acarreta profundas consequências. Como quase todos os países do globo adquirem títulos do tesouro estadunidense, para aumentar suas reservas, todos, com isto, são afetados por eventuais sanções que partem do país norte-americano. Os ianques estão, ainda, numa posição cômoda, pois basta-lhes emitir dólares para consolidar seu domínio econômico sobre a ordem global. Eleito Milei, não apenas a Argentina fica fora do BRICS, mas a própria integração econômica sul-americana é prejudicada e, em considerável medida, o eixo ligado ao BRICS é impactado, de diretriz diferente do alinhamento ocidental. Desde o fim da Segunda Grande Guerra os Estados Unidos da América têm priorizado relações com Grã-Bretanha e Israel, e a discussão sobre as Ilhas Malvinas é abafada, invocando a participação da fatia política inglesa, agora iterando o apoio econômico à república do tango. Parcerias já firmadas por Alberto Fernández com a China, consistente sobretudo em edificação de infraestrutura, serão canceladas ou suspensas, ou, como se diz, ficarão “em meia-viagem”. A China permanece fazendo esforço para integrar Taiwan ao seu território, e a base militar aeroportuária em solo argênteo contribuiria para a obtenção deste tão desejado resultado. A Guerra na Ucrânia e o empoderamento de Milei no país vizinho refletem uma só e mesma preocupação: zelar pela hegemonia do dólar norte-americano como a mais importante moeda mundial, bem acima da segunda colocada, seja ela o rublo ou outra espécie. Tem muito brasileiro que alimenta uma verdadeira veneração pelos estadunidenses. Pontuo que Brasil e Argentina são dois grandessíssimos parceiros comerciais, são vendedores e compradores recíprocos, e a nova guinada econômica afetará as nossas próprias finanças. A China, que vinha comprando trigo, soja e carne da Argentina, provavelmente, doravante, adquirirá estes produtos de outros países, sendo Brasil e Uruguai dois fortes candidatos para o papel de vicários. É inegável que a injeção financeira na economia argentina lhe dará um fôlego. Todavia, de todo modo, a solução encontrada por Milei traz consigo as glórias e mazelas do sistema capitalista global: ainda que floresça a indústria portenha, é bem-sabido que nosso vizinho ficará naquela zona intermediária, não sendo nem um país falido e nem um país desenvolvido, mas cabido na condição de pagante de juros, ad eternum, “em desenvolvimento”. Em poucos anos passará esse fenômeno global, nominado por alguns de “recessão democrática” e, definitivamente, a integração econômica latino-americana será uma realidade. Pararam de falar em neoliberalismo, e agora estão falando em “anarcocapitalismo”. Eu já tinha dificuldade de entender um Estado que se abstém de investir em saúde, educação, seguridade social, dentre outros. O que, em absoluto, eu não compreendo e não compreenderei, é a não incidência tributária, justamente porque o capital, para realizar-se como fenômeno econômico, pressupõe uma série de circunstâncias, inclusive infraestrutura. E não sei como que o adimplemento do princípio “da não-agressão”, que, em si mesmo, não é ruim, faria mágica ou milagrosamente acontecer a prosperidade dos cidadãos privados, que estariam clamando contra a voracidade fiscal daquilo que chamam de “Leviatã”. O mundo, realmente, está precisando de luz, muita luz!

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