Página Inicial | Geral | Três gerações moldando o ferro: a história do ferreiro Paulo Savitzki

Três gerações moldando o ferro: a história do ferreiro Paulo Savitzki

Santa Terezinha

Por Jornal Liberdade 10 min de leitura

No interior de Santa Terezinha, na localidade de Entre-Rios, o som do martelo contra a bigorna ecoa há décadas. É na pequena forja do Sr. Paulo Savitzki, que tradição, memória e trabalho duro se misturam ao calor do ferro incandescente. Ele representa a terceira geração de ferreiros da família, profissão herdada do pai e do avô – este último vindo da Europa, trazendo na bagagem a arte da ferraria como sustento para a família.

“Meu pai Paulo Savitzki conta Francisco Savitzki, filho, conhecido como Franho já era ferreiro, meu tio também, o sobrinho do meu pai também. É de família, são três gerações”, conta, orgulhoso, sentado ao lado da antiga forja, que há mais de 30 anos molda ferramentas, rodas de carroça e argolas.


A forja que atravessa o tempo

A forja – um forno antigo para aquecer o ferro – ainda está em pleno funcionamento. Apesar da idade, segue resistente como o próprio ofício. “Ela dificilmente quebra ou estraga”, afirma Sr. Franho. O processo pouco mudou desde a Idade Média: ferro aquecido, martelado e moldado na bigorna, sem solda industrial. Até o carvão usado na queima era produzido artesanalmente, a partir de nós de pinheiro queimados e enterrados para virar carvão.

As peças resultantes desse trabalho, como argolas e rodas de carroça, “não têm emenda” e duram décadas. “Ela gasta, mas não arrebenta. É tudo feito no fogo, não é nada soldado”, explica com o olhar orgulhoso.


Uma relíquia da família

Entre as lembranças mais preciosas está uma carroça antiga, feita pelo próprio Sr. Franho. “É do tipo mais antigo, nós usávamos para levar o trigo ao moinho e trazer a farinha de volta. Essa eu não vendo, é nossa relíquia, tem que ser preservada”, diz emocionado. Ele recorda que essa foi sua primeira condução após o casamento, usada para visitar a sogra, puxada por cavalos – transporte comum antes da chegada dos automóveis.


Tradição e desafios para o futuro

Apesar da história e da importância do ofício, Sr. Franho reconhece que manter a tradição viva é um desafio. “Quem sabe um dia algum neto siga esse caminho. Nós já estamos no fim, mas está aí, guardado, como um minimuseu”, comenta, enquanto mostra as ferramentas organizadas.

A oficina, simples e resistente, tornou-se um ponto de memória para a comunidade de Entre-Rios em Santa Terezinha, preservando uma prática que já foi vital para a economia local. “Tem que cuidar mesmo, tem que preservar”, reforça.


Patrimônio cultural vivo

A história de Francisco Savitzki de 82 anos vai além do ferro. É um retrato de dedicação, amor ao ofício e respeito às raízes familiares. A cada martelada, o Sr. Francico moldou não apenas o ferro, mas também a memória e a identidade cultural do interior catarinense – uma verdadeira herança viva.